Com o encerramento de 2024, um balanço das captações de órgãos realizadas em duas unidades de saúde de Presidente Prudente mostra que os procedimentos caíram de 17 feitos em 2023 para 11 realizados no ano passado, totalizando os dados do HR (Hospital Regional) de Presidente Prudente e da Santa Casa de Misericórdia.
No HR, as captações diminuíram de onze em 2023 para apenas três em 2024. O diretor técnico e coordenador médico da CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) do hospital, Renato Ferrari, atribui a queda na unidade a fatores como mudanças no perfil dos pacientes após a pandemia e processos mais rigorosos de validação pela OPO (Organização de Procura de Órgãos).
“A logística é um grande desafio para um hospital localizado no interior do Estado, distante dos principais centros transplantadores. Além disso, a doação de órgãos exige um tempo considerável para a validação do doador, incluindo a realização de exames, documentação e obtenção do consentimento familiar. Durante esse período, não é incomum que as famílias acabem recusando a doação”, detalhou Renato.
Diante desse cenário, o médico relatou que a indicação do aceite de doação, que é de responsabilidade da OPO, também contribuiu para a redução significativa no número de doações. “A análise mais restritiva realizada por essa organização muitas vezes inviabiliza potenciais doações”, apontou o coordenador da CIHDOTT do HR.
Na Santa Casa de Prudente, em 2024 ocorreram nove captações de múltiplos órgãos, o que representa um aumento em relação às seis captações registradas em 2023. Entre os órgãos captados, estão coração, pulmões, rins, fígado, córneas, ossos e pâncreas. A eficiência logística na unidade para agilizar os procedimentos e o transporte conta com o suporte de hospitais parceiros e da FAB (Força Aérea Brasileira).
Para Anderson Milhorança, enfermeiro da CIHDOTT, o cenário atual reflete avanços na conscientização sobre a importância das doações. “No entanto, ainda há muito a ser feito. É fundamental fortalecer a cooperação entre instituições, governo e meios de comunicação. O principal obstáculo para a doação, além de muitas famílias não saberem qual era o desejo do potencial doador, é a falta de informação sobre o processo como um todo”, explica Anderson.
Ele expõe que “crenças religiosas, mitos urbanos e a desconfiança no sistema de saúde ainda dificultam o aumento das doações”. “Muitas vezes, as famílias optam por negar a doação por diversos motivos”, diz o enfermeiro ao elencar alguns dos principais fatores.