O ponto-chave para quem deseja ser doador de órgão é manifestar isso em vida, uma vez que em meio ao infortúnio, não é algo que cabe a você decidir, mas sim a sua família. Portanto, o desejo deve ser cada vez mais enfatizado enquanto ainda é possível. Pensando nesse contraponto, no ano passado, tal esforço deve sim ter sido enfatizado, já que as captações de órgãos praticamente dobraram, em Presidente Prudente. Foi um aumento de 91,3%, equivalente à evolução de 58 procedimentos realizados em 2018 para 111 em 2019.
Para a base de cálculo, foram levados em conta os números dos dois hospitais que realizam a captação na cidade: HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo e a Santa Casa de Misericórdia. E embora na soma final o aumento tenha sido constatado, e o melhor, mais vidas foram salvas, cada unidade de saúde teve um desempenho diferente.
No HR, por exemplo, há uma queda. No ano de 2018, foram realizadas 23 entrevistas familiares, sendo que 17 aceitaram fazer a doação e seis recusaram. Já no ano passado, foram 16 entrevistas familiares, sendo que 10 famílias doaram os órgãos de seu ente querido e seis recusaram, conforme as informações da entidade. Entretanto, o hospital ainda não possui o relatório da quantidade de órgãos coletados, que pode ser maior, uma vez que o número de captações múltiplas foi mais notável.
Por outro lado, na santa casa o cenário foi diferente. De um ano ao outro, a quantidade de captação foi de 41 a 101. A unidade de saúde ainda conseguiu especificar os tipos: tecido ocular, em 2018, seis, e em 2019, 40; múltiplos órgãos, de um para cinco; córneas, de 25 para 47; e, por fim, captação de rins foi igual nos dois períodos: nove.
AUMENTO NA FILA
E CONSCIENTIZAÇÃO
Apesar de bons números, o coordenador de transplantes do HR, Renato Ferrari, lembra que ainda há uma preocupação quanto ao tamanho da fila de espera, que nunca para de crescer. De acordo com ele, para cada transplantado existem dois novos no aguardo. “É como dar um passo à frente, mas retornar dois para trás”, completa.
Sendo assim, o especialista acredita que há “falta de conscientização da família”. Renato diz entender se tratar de um momento delicado, mas a oportunidade abre espaço para vidas serem salvas. “Nossa população é muito pobre de educação. O que mais pesa, na hora, é o tempo de liberação do corpo. Mas é curto, algo em torno de 24 a 30 horas. Só interfere se for uma captação múltipla”, frisa. Ele complementa que, com menos informação, mais difícil fica o contato com a família.
Porque a reação, nesse momento, é diversa, desde raiva à empolgação de ajudar alguém. Portanto, há um apoio psicológico quando essa situação ocorre, tanto para os funcionários que precisam oferecer a opção, quanto para a família do paciente morto. “A gente acompanha todo o paciente neurológico grave. A partir do momento que já dá sinais de que não sobreviverá, a gente fala com o médico assistente e faz a abertura da conversação”, comenta.
ISQUEMIA
O tempo de isquemia é o tempo de retirada de um órgão e transplante deste em outra pessoa. Isso interfere, então, na agilidade em fazer o procedimento, já que cada órgão possui um hiato diferente. Renato Ferrari, que é o coordenador de transplantes do HR, lista o tempo dos principais:
- Rim: 48 horas
- Fígado: 8 horas
- Pâncreas: 8 horas
- Coração e pulmão: de 4 a 6 horas