Caminhos para o ensino médio

OPINIÃO - Elisa Tomoe Moriya Schlünzen

Data 02/09/2021
Horário 05:00

Os dados da educação nas últimas décadas são alarmantes, como os da PNAD-19 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que indicam que mais da metade dos adultos não concluíram o ensino médio (51,2% ou 69,5 milhões). Ela mostra também que entre os principais motivos para a evasão escolar foram a necessidade de trabalhar (39,1%) e falta de interesse (29,2%).
Em um cenário tão preocupante, em 2017 foi aprovado o novo ensino médio, com reformulações no currículo, entre elas a ampliação na carga horária de 800 para mil horas e os chamados itinerários formativos, possibilitando que parte do currículo possa ser escolhido pelos estudantes. 
Neste contexto, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo contratará 10 mil professores, aumentando o número de aulas por dia a partir de 2022 e investirá R$ 300 milhões por meio do programa Dinheiro Direto na Escola.
Será que estas ações são suficientes para diminuir a evasão e a falta de interesse dos estudantes pelo ensino médio? Qual política pública e ações seriam necessárias para melhorar a qualidade desse nível de ensino? 
A minha avaliação, após ter sido coordenadora de Políticas Educacionais no MEC, professora e pesquisadora, é para além da contratação de novos professores, mas para a urgência de ações em três esferas:
As gestões públicas precisam definir políticas para a valorização docente, em termos salariais e de condições de trabalho, reconhecendo a profissão como a mais importante para o desenvolvimento de um país. A sua desvalorização é atualmente motivo para poucos desejarem exercê-la.
As instituições de ensino superior, por sua vez, precisam formá-los para novos contextos de educação permeados por abordagens pedagógicas e tecnologias. A formação deve se destinar para a sua atuação enquanto professor e pessoa, observando as mudanças que não devem ser exclusivamente para a escola, e sim para a vida dos estudantes. Dessa forma, defendemos a abordagem CCS (Construcionista Contextualizada e Significativa), onde o estudante é desafiado a construir algo de seu interesse dentro de um contexto de atuação, dando significado ao que está sendo aprendido.
Às instituições do ensino médio, cabe incentivar os professores na transformação dos espaços de aprendizagem, fazendo parceria com os estabelecimentos da sociedade para que os estudantes desenvolvam suas atividades no seu contexto, aliando teoria e prática. Esta parceria pode estimular a participação do estudante como estagiário, não tendo que largar o estudo para trabalhar.
Se a mudança não ocorrer nestas esferas não haverá possibilidade de sucesso, será apenas mais uma nova maquiagem, sem uma alteração nas causas do problema.
 

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