Resolvi ir a pé até a casa da minha sogra que mora perto do Tênis Clube. Uma boa caminhada faz bem para a saúde. A manhã ensolarada, o calor típico da nossa amada aldeia, não tira minha motivação. Coloco no Spotify, a música lírica do pianista Michael Nyman, “Rochester's Farewell”, a despedida de Rochester, do filme “O Libertino”, numa interpretação magistral do ator John Deep.
Vou caminhando olhando o céu de ilusão. Vejo um pobre homem carregando sacos de lixo, um meio cruel para viver sua dura sobrevivência. Um velho funcionário da Prudenco está sentado na calçada protegido por uma pequena e santa sombra de uma pequena árvore comendo o seu almoço, um pão com salsicha. Não há sombras nas vidas sofridas. Um cachorro late, um carro passa e buzina como se fosse um cumprimento, mas não vi quem era.
Passando pelo Supermercado Mais Você, em frente ao Ginásio de Esporte, encontro o Júlio que me diz: Pô você vive dentro de um formol. Não aparento a idade de 71 anos. Que bom. Júlio foi bom de bola. Vou caminhando sem pensar aonde a tecnologia vai nos levar. Sou levado pelos movimentos do cotidiano sentindo o calor do sol aquecendo meu corpo. Procuro a música “Valley of the Dolls”, do filme, “O Vale das Bonecas”, de 1967, composição do imortal do pianista e requintado, Burt Bacharach. Canção interpretada pela excepcional Dionne Warwick. Não sou saudosista, mas a década de 60 e 70 foram os anos dourados em todos os sentidos que me deram um referencial de qualidade acima da média, além da compreensão dos tolos.
Vejo uma avó brincando com sua netinha que me dá um sorriso como se fossem pétalas de rosas anunciando a primavera. Sorriso de pura inocência. Estou chegando perto do Supermercado Nagai. Entro para comprar a minha fruta preferida, bananas. Encontro o querido amigo, Dr. Jeronymo Ruiz Garcia, e começamos a conversar sobre a situação política da nossa cidade. Me despeço dele e vou caminhando mais rápido, pois não quero chegar atrasado para o almoço. Perdi meu sogro há poucas semanas, e estamos passando por esse duro período de luto. Coisas da vida.
O Sergio, que é um baiano arretado, casado com minha cunhada Luciane, é um craque na gastronomia. Está preparando filé de camarão VG, ao molho de tomate e leite de coco. Prato dos Deuses. Passo em frente da casa onde comecei a minha vida com a Mulher Maravilha. Senti saudades. Agora estou escutando “Cavallaria Rusticana”, uma ópera prima, do compositor italiano, Pietro Mascagni. Retrata a vida triste de Santuzza. Linda música, que toca no final do filme, “O Poderoso Chefão 3”. Ainda me causa um impacto emocional, lembrando da morte chegando no velho e solitário, Michel Corleone. Quem não se sentiu parte da Família Corleone? Eu senti que parecia que tinha perdido um irmão mais velho. Um filme magnífico que marcou gerações.
Chego na casa da minha sogra, Da. Terezinha dos Reis Bellintani, e estão assistindo um leilão de gado na cidade de Rio Negro no Mato Grosso. Meu sogro será homenageado pelo Júnior, que é o organizador desse importante leilão. Júnior é muito amigo do "Vermeio", apelido do meu querido sogro, por causa do seu tom de pele. Ele diz na homenagem que esse leilão que ele organiza deve muito ao Vermeio, pois foi muito incentivado por ele e hoje esse leilão virou muito importante para essa região. Júnior se emociona e diz que o "Vermeio" foi seu segundo pai. Meu sogro será sempre lembrado por ter sido um pai carinhoso, um amigo solidário, um especialista na arte de comprar gado, do seu caráter, lealdade e honestidade. Para mim, será sempre uma honra ser o genro do Sr. Ayrton Bellintani. Paz na terra aos homens de boa vontade.