Camelódromo em obras: boxistas falam sobre situação

Eles relatam dificuldades em relação ao custeio de despesas e falta de movimentação de clientes no espaço em que trabalham atualmente, no terminal rodoviário

PRUDENTE - CAIO GERVAZONI

Data 19/12/2021
Horário 04:01
Foto: Caio Gervazoni
Boxistas relatam que a infraestrutura do camelódromo do terminal rodoviário é "precária e o movimento de clientes é cada vez menor "
Boxistas relatam que a infraestrutura do camelódromo do terminal rodoviário é "precária e o movimento de clientes é cada vez menor "

No dia 6 de janeiro de 2022, as obras de revitalização do camelódromo de Presidente Prudente, na Praça da Bandeira, irão completar dois anos de imbróglio. De acordo com a Prefeitura, os trabalhos caminham em ritmo lento, não há uma data final de entrega do espaço e apenas à conclusão de etapas do cronograma, como a parte de alvenaria dos boxes. O cenário é desolador para os boxistas, que há mais de 14 meses se encontram no terminal rodoviário. Vários deles reclamam do “‘empurra-empurra’’ e citam que há um “desprezo do poder público” em relação às obras do espaço antigo. A reportagem foi até o terminal para conversar com os camelôs e compreender a necessidade deles de voltar ao local na Praça da Bandeira.
O boxista Francisco Ferreira Lima, Chicão, que encabeça a comissão dos boxistas, narra que participa do processo de fiscalização das obras junto aos vereadores. No início desta semana, eles retornaram ao espaço, na Praça da Bandeira, para verificar o andamento das obras. Como noticiado por este diário, a visita tinha o objetivo de verificar se foi finalizada a construção da alvenaria dos boxes, conforme projetado pela Sosp (Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos) na primeira vistoria, há cerca de 30 dias. Estava prevista a entrega de 86 boxes no que se refere à laje e detalhes de acabamento interno, contudo, deste total, apenas 56 unidades estavam finalizadas.
 “A gente teve uma reunião pública. Eu, como representante dos boxistas, e os vereadores, estamos fiscalizando a obra etapa por etapa. Por exemplo, de tal dia a tal dia faz uma coisa, de tal dia a tal dia faz outra. Até porque não tem um prazo para terminar”, explica Chicão. 

Foto: Caio Gervazoni

Chicão: “Nesta transição de lá para cá, a gente perdeu cerca de 70% da clientela”

“Hoje, dificilmente você vê um boxista que não tenha gerado uma dívida fora do orçamento, porque nós não vendemos 40% do que a gente vendia lá em cima”, relata o boxista. Para Chicão, o território atual do camelódromo no terminal rodoviário é precário e não há um mínimo de conforto tanto para os trabalhadores quanto para os clientes. Ele também relata que a transição de ambiente foi “péssima” para os comerciantes do camelódromo e que vários contraíram dívidas ou desistiram do negócio. 
“Aqui o espaço é precário. Não temos o mínimo de conforto. Pagamos o aluguel do container, da tenda e do segurança. O chão é asfaltado, um calor terrível e não temos o mínimo de dignidade para o nosso cliente aqui. Uma, é que não temos quase clientes, que é o necessário para que a gente sobreviva. Nesta transição de lá para cá, a gente perdeu cerca de 70% da clientela”, relata Chicão.

Reclamações coletivas

Marcia Aparecida de Sousa Costa é boxista desde a inauguração do camelódromo da Praça da Bandeira, em meados da década de 90. “Eu estou doente, estou até emagrecendo de tanta angústia que estou por causa dessa situação. A melhor coisa que eu achava era estar lá no meu cantinho que Deus me deu, porque lá eu fui sorteada. Fiquei quase 30 anos, meu filho, naquele lugarzinho [em referência ao box dela na Praça da Bandeira] e agora estou aqui com uma situação que não consigo pagar nada”.

Foto: Caio Gervazoni

“Eu tô aqui mesmo, meu filho, para não ficar dentro de casa. Até para pagar os aluguéis aqui está difícil”, argumenta Marcia Aparecida

Vendas em baixa

A boxista Isabel Cristina da Silva também trabalha no camelódromo desde a década de 90 e narra que há dias que não é possível, com as vendas, comprar uma marmita. “Para a gente está muito difícil, não está fácil. As vendas caíram bastante. Até porque quem vai se locomover de lá do centro até aqui pra baixo? Tanto na época de sol quente, como de chuva, o movimento aqui é muito baixo, o pouco que vem é para pegar ônibus e tal. Tem muita gente desistindo, entregando os containers, porque não consegue arcar com os aluguéis. Olha, tem dia que não vendo nem R$ 20, tem dia que não consigo vender e não dá nem para comprar uma marmita”, pontua Isabel. 
“Naquele ponto, a movimentação do comércio chamava a gente e a gente chamava o comércio. Estou desde a inauguração do camelódromo há 27 anos. Faz dois anos que estou aqui no terminal e não está sendo fácil, não”, acrescenta a boxista.

Foto: Caio Gervazoni

“Faz dois anos que estou aqui no terminal e não está sendo fácil, não”, diz Isabel

Infraestrutura "precária"

Assim como Chicão, o boxista João Emerson da Silva pontua que a infraestrutura do camelódromo atual é “precária”. “Aqui nós estamos numa situação muito precária e dependendo da boa vontade dos órgãos públicos para acabar esta obra, mas pelo o que a gente está vendo, vai demorar ainda”. Para ele, a reforma do antigo espaço foi bem-vinda, porém, devido ao atraso das obras e à condição precária do local atual do local, o cenário presente é desolador aos comerciantes. “Estamos sendo feitos de bobos. Um descaso total. Vereadores, prefeito, a gente se reúne com eles para falar sobre isso e não tem nada definido”, narra o lojista. 
De acordo com o boxista, para compreender o contexto do camelódromo, a administração pública deveria passar um dia inteiro por lá. “Vão empurrando com a barriga enquanto estamos aqui em um sofrimento, porque é chuva, é sol e falta de movimento e segurança. Recentemente renderam o segurança que trabalha aqui e aproveitaram para roubar alguns boxes e isso é outra coisa que deixa a gente muito chateado também. Esperamos que a Prefeitura se comova com a nossa situação, poxa vida. Eles deveriam vir aqui passar um dia com a gente para ver como é o sofrimento. Só quem sente na pele sabe o que é este trem [sic] aqui”, completa João Emerson. 
“Devido à logística onde nós fomos instalados aqui, hoje o movimento é 70% ou 80% menor do que nós tínhamos lá em cima [na Praça da Bandeira], porque fica fora de mão”, acrescenta o boxista.

Foto: Caio Gervazoni

Com a mudança, João Emerson afirma que houve uma redução de até 80% na movimentação

Suspensão do negócio

Para o boxista Silvio Gilberto Camacho, as despesas com o aluguel de container, tenda e segurança não estão compensando diante o contexto de vendas cada vez mais baixas. Ele relata que pensa em suspender o negócio no ano que vem. “Pagamos os aluguéis aqui de box, tenda e segurança para a gente se manter e não está compensando. Tem muita gente parando. Eu mesmo para o ano que vem acho que não aguento ficar mais aqui, não. Abandono e vou atrás de outro tipo de serviço”, discorre Silvio.

Foto: Caio Gervazoni

Silvio cogita deixar o espaço no camelódromo no terminal: “Não aguento mais ficar aqui”

Até o fechamento desta matéria, a Prefeitura de Presidente Prudente não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o atraso das obras e às críticas dos boxistas. 

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