O calor escaldante enfrentado pelos prudentinos desde a última primavera não tem dado trégua, já que segue intenso neste verão, com temperatura máxima na média dos 36 graus nos últimos dias. Não só o corpo humano pede socorro, mas também a produção agrícola, que é diretamente influenciada pela elevação nos termômetros. Com o cultivo prejudicado, automaticamente a oferta das frutas, dos grãos e do grupo de hortaliças, que abrange legumes, verduras, bem como as folhagens, diminui. Consequentemente, os preços sobem e afetam diretamente os supermercados, sacolões, e, principalmente, o consumidor final.
O presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, Carlos Roberto Biancardi, explica que as ondas de calor, aliadas à instabilidade pluviométrica, têm influenciado na produção, especialmente das frutas de estação. “É evidente a redução da oferta de frutas, como mamão, cítrus, mangas e outras. Consequência imediata é a elevação dos preços pagos pelo consumidor. O produtor também sente os efeitos, com aumento de custos e redução da receita esperada”, comenta.
Frisa que as alterações climáticas produzem efeitos danosos também para as grandes culturas, como da soja e do milho. “O IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] divulgou uma projeção de redução de 9 milhões de toneladas de grãos na atual safra. Os agricultores utilizam a tecnologia, em especial irrigação, mas a normalidade climática é indispensável para o sucesso das lavouras. Essa instabilidade acentuou-se, principalmente nos dois últimos anos”, destaca.
O reflexo das altas temperaturas na produção é sentido pela Rede de Supermercados Estrela, que tem oito lojas em Prudente. O subgerente da unidade Estrela Centro, Natan dos Santos Xavier, 26 anos, relata que, por conta do calor, sentiu diferença no abastecimento de frutas e verduras. “O tempo de qualidade dos produtos acaba diminuindo muito, mesmo que deixemos em câmaras frias para refrigerar. Os produtos que mais sofrem são uvas, pêssego e a pêra. As verduras também temos que ficar molhando várias vezes durante o dia para que não percam a qualidade”, explica. Salienta que, ainda por conta das altas temperaturas, os valores aumentam. “A entrega fica mais de lenta porque faltam produtos e, por esse valor subir, acaba que temos que repassar para nosso consumidor final”, argumenta.
Há 23 anos no ramo de hortifruti em Prudente, o Sacolão Triângulo também sofre com a elevação nos termômetros, segundo a proprietária Andréia Maldonado, 44 anos, que destaca dificuldade de atender uma gama de clientes que vão de residências e condomínios até refeitórios e fornecedores de marmitas. “O calor tem interferido muito na qualidade e na quantidade dos produtos, principalmente de hortaliças. Além de estarem vindo com baixa qualidade, não está tendo oferta. Alguns produtos estão em falta nas prateleiras desde novembro e dezembro, quando já registramos altas temperaturas. Estamos há uns três meses com essa dificuldade”, revela. “Isso automaticamente interfere no valor. Ano passado, em janeiro, eu vendia um maço de alface a R$ 3, R$ 3,50. Hoje, está R$ 6. Porque, como tem pouca oferta, os produtores sobem o valor. Então, o calor interfere muito”, complementa.
Andréia enfatiza que, quanto aos legumes e frutas, o estabelecimento também tem enfrentado dificuldades. “A laranja, a batata, por exemplo, os preços dispararam. Nossa região não é grande produtora, então geralmente se produz por aqui as folhagens. Assim, a maioria das coisas vem de São Paulo, e com o excesso de calor, a baixa produtividade, está caindo muito a oferta dessas mercadorias e, automaticamente subindo muito, muito mesmo, os valores”, lamenta.
Para a proprietária do Supermercado Alvorada, Cristina Rodrigues Miranda, o cenário é o mesmo. Ela fala que o seu estabelecimento trabalha apenas com o básico da feirinha para atender os clientes do bairro e, mesmo ofertando poucas opões de hortifruti, sentiu a procura pelos produtos cair desde o ano passado. “Íamos ao Ceasa buscar itens mais vezes, mas agora só vamos duas vezes na semana e para pegar pouca coisa, pois a margem da feirinha é baixa e, ainda, se perdemos o produto, fica o prejuízo. Por exemplo, eu comprava quatro caixas de tomate na segunda-feira, e mais quatro ou cinco na sexta-feira. Agora, pego duas na segunda e, às vezes, duas na sexta, pois está sobrando, estragando muito, e os clientes estão reclamando que estão sem dinheiro também”, alega, sobre as compras que realiza na antiga Central de Abastecimento S/A, atual Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).
Como noticiado neste diário, em novembro do ano passado, diante de uma onda de calor que atingiu temperaturas máximas de cerca de 40 graus, a Ceagesp de Prudente, que comercializa em média 6 mil toneladas mensais de produtos, anunciou que seguiam baixos os números de perda de alimentos por conta do calor, em suas dependências. Isso em função de ações especialmente pensadas para minimizar tal problema. A fim de evitar que frutas e hortaliças murchassem rapidamente existe um processo de refrigeração dos produtos. Além disso, a companhia dispõe de iniciativas diversas para o combate ao desperdício, como o Banco Ceagesp de Alimentos, para o qual são doados os itens que tenham perdido o valor comercial, mas ainda mantenham os valores nutricionais e de higiene para consumo. Esses alimentos são encaminhados para entidades cadastradas e bancos de alimentos e, pontualmente, são realizadas ações humanitárias.
Foto: Arquivo
Biancardi: “Consequência imediata é a elevação dos preços pagos pelo consumidor”
Foto: Cedida/Sacolão Triângulo
Andréia Maldonado, na foto com o esposo Elson, está há 23 anos no ramo de hortifruti
Foto: Maurício Delfim Fotografia
Subgerente: “As verduras molhamos várias vezes ao dia para que não percam qualidade”