Cada sessão de exercício físico conta contra o câncer

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Apesar do diagnóstico e das terapias contra o câncer terem evoluído significativamente nas últimas décadas, permitindo prognósticos bastante otimistas na maioria dos casos, essa doença ainda assusta o paciente e os familiares. E se houvesse um “escudo protetor” para prevenção, mesmo não sendo 100% eficiente, e uma terapia complementar para os pacientes, você as usaria?

 

PREVENÇÃO
Prevenção é uma estratégia importantíssima no combate ao câncer e há alguns comportamentos que devemos adotar, entre eles, o estilo de vida ativo. O efeito do exercício físico na microbiota intestinal, que repercute no sistema imune, e o efeito direto do exercício no sistema imune, com a estimulação de diferentes subtipos de leucócitos (células brancas) é um fator importante. Está demonstrado que o exercício melhora a imunovigilância do câncer, proporcionando a identificação de tumores no início e disparando a infiltração dos leucócitos nos tumores para atrasar a progressão ou debelá-los.

 

NEOADJUVANTE
Dentre os vários tipos de cânceres, alguns devem ser removidos cirurgicamente. Em alguns destes casos deve ser realizado um tratamento prévio para diminuição do tumor, até que possa ser removido. A quimioterapia é o tratamento neoadjuvante mais comum. E exercício físico tem sido considerado como uma terapia complementar para os pacientes, especialmente durante o tratamento neoadjuvante.

 

EFEITOS DO EXERCÍCIO
Um estudo analisou os efeitos de diferentes protocolos de exercícios em pacientes com tipos variados de câncer, submetidos a tratamento neoadjuvante. As intervenções com exercícios físicos melhoraram a capacidade cardiorrespiratória, força muscular, composição corporal e a capacidade funcional. Pacientes com câncer de mama, recebendo quimioterapia e realizando treinamento com exercícios aeróbicos e de resistência (força) melhoraram os parâmetros mencionados e tiveram atenuação no declínio da qualidade de vida. Há algumas evidências de que o exercício físico pode ter efeitos positivos na fadiga e qualidade do sono, também relacionadas ao câncer.

 

CAQUEXIA
É caracterizada pela perda acelerada e significativa de massa muscular. Um problema em pacientes com câncer. O exercício físico, junto com intervenções nutricionais e farmacológicas, tem sido utilizado no tratamento da caquexia. O exercício físico promove a renovação de proteínas (anabolismo), diminui a inflamação, o estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial.

 

PÓS-TERAPIA
O exercício físico tem impacto positivo nos domínios físico (capacidade funcional), cognitivo e social, além de modular a perda de apetite. Por isso, a inclusão de exercícios supervisionados e personalizados pode ser um passo importante para o tratamento mais eficaz e humanizado dos pacientes. Os efeitos positivos estão associados à menor incidência e mortalidade por câncer, menor taxa de recorrência do tumor e redução do risco de doenças cardiovasculares em sobreviventes de câncer de mama. Ainda estão por serem definidos os protocolos (tipo de exercício, frequência, intensidade e duração) mais eficazes para diferentes tipos de câncer e tratamentos.

 

Efeitos positivos do exercício físico estão associados à menor incidência e mortalidade por câncer, e menor taxa de recorrência do tumor.

 

 

Referências

 

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