Ofensas, provocações, exposição de fotos e vídeos íntimos e ridicularizações são algumas ocorrências que uma parcela de jovens enfrenta no dia a dia escolar. Isso se agrava, quando esses fatos ultrapassam o limite do respeito e invadem também as plataformas de comunicação na web. Na era digital, casos de ciberbullying se tornam comuns entre crianças e adolescentes. De acordo com pesquisa realizada em 2017, do TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) Educação, quatro em cada dez professores já ajudaram alunos a lidar com os casos de bullying na internet. Essas situações são mais incidentes para o público feminino, com um percentual de 42%, se contrapondo com o público masculino, com 34%. Segundo os dados, 44% dos casos são constatados em escolas públicas, ficando as particulares com 39%.
Período delicado
Como a adolescência é um período de transição entre criança e adulto, essa fase promove muitas mudanças físicas e psicológicas, causando diversos conflitos internos e externos. Junto a isso, quando ocorrem casos de bullying e cyberbullying, essas transformações acabam se desenvolvendo mais dolorosamente, até mesmo, deixando sequelas psicológicas até a vida adulta. Conforme a psicóloga Joselene Alvim, a adolescência é um período de confirmação de valores, em que os jovens estão estruturando a personalidade. “É um momento de transição, marcado por muita insegurança e ansiedade, pois eles ainda não possuem a autoestima fortalecida”. Isso acaba gerando no adolescente uma noção inconstante sobre si, fazendo com que aquilo que os demais os atingem, se torne uma verdade absoluta. “Nessa idade, a pessoa não possui subsídios psíquicos para sair disso, e essas situações de bullying acabam tomando conta da sua vida”, afirma.
Consequências
Algumas das principais consequências desses casos é o isolamento social, problemas de aprendizagem e baixa autoestima. “Muitos acabam abandonando a escola, e nem cogitam a possibilidade de ir para outra, pois acreditam que vá acontecer a mesma coisa”, explica Joselene. A psicóloga ainda declara que na maioria dos casos são apresentadas alterações de humor, desejo de ficar sempre no quarto e de dormir demasiadamente, e até mesmo se recusam a continuar utilizando a internet. “O jovem fica tão angustiado, que acaba nem contando aos pais”, conta.
Escolas
No Colégio Anglo Prudentino, a diretora Nelly Martão fala que os casos de cyberbullying ocorrem fora da escola, mas acabam tendo um desfecho dentro da instituição. “Muitos casos são por conta de fatos que ocorrem em festas ou casos de namoro”. A diretora diz que as ocorrências diminuíram na unidade escolar, mas que às vezes ainda ocorrem algumas situações. “Algumas vezes encontramos as meninas chorando e vamos conversar. As ocorrências geralmente são por provocações”, expõe.
Segundo a professora mediadora de conflitos da Escola Pública Estadual Vereador Pedro Tofano de Presidente Prudente, Celma Cristina Mardegan Ruiz, ultimamente não são encontrados casos pontuais de cyberbullying na unidade. “As ocorrências mais verificadas, na maioria das vezes, são no início dos anos letivos, nas classes de 6° ano, mas depois passa”. A professora diz que em situações assim, são chamadas ambas as partes para uma reflexão sobre o ocorrido, e, dependendo do caso, são assinadas as penalidades.
Projetos
O Colégio Anglo Prudentino desenvolve um projeto chamado Líder em Mim, em que são trabalhados valores como respeito e limites em sala de aula, assim como situações de bullying. A diretora declara que atualmente não têm ocorrido tantos casos na escola, devido ao auxílio do projeto. “Não foi a solução para tudo, mas ajudou muito aos alunos entenderem que para serem respeitados, eles precisam respeitar”, afirma Nelly.
Já na Pedro Tofano, Celma relata que a escola também dispõe de um projeto sobre bullying, com materiais disponibilizados pela Diretoria de Ensino, constituído de cartilhas e vídeos específicos para cada série. O projeto é aplicado durante todo o ano em sala de aula, quando são trabalhados valores nas relações sociais e os diversos tipos de bullying, como verbal, físico, psicológico, sexual e virtual. “É um tema que eles mesmos se envolvem muito. Aos poucos vão se conscientizando”, afirma a mediadora.
PERFIL
Cedida/Taylane Fernandes
Nome completo: Taylane Fernandes
Idade: 19 anos
Curso: Jornalismo
Faculdade: Universidade do Oeste Paulista
Você já passou por situações de cyberbullying? Como foi?
Sim. Quando eu tinha 12 anos, existia uma rede social em que as pessoas mandavam questões anônimas. Eu fiz a conta na intenção de conhecer pessoas e responder perguntas comuns, mas acabaram usando essa rede pra me atacar. Me mandavam inúmeras ofensas, além de inventarem muita coisa sobre mim. Eu me sentia péssima, pois comecei a aceitar aquelas mentiras como verdades. Eram muitas provocações e insultos que acabavam me magoando profundamente. Hoje vejo isso apenas como inveja, pois eu era uma pessoa normal e dedicada na escola, só não era popular, mas mesmo assim as pessoas arranjavam desculpas para me ofender.
Em redes sociais como Facebook, Orkut, Twitter ou Instagram, isso também chegou a acontecer?
Muitas vezes. Já chegaram a me mandar ofensas no bate-papo mesmo, sem se esconder. Era horrível, falavam mal do meu modo de vestir, do meu jeito, entre outras coisas. Com isso, a minha autoestima caiu muito, pois as pessoas acabavam comigo. Na época, parecia o fim, mas hoje não me importo com o que diziam sobre mim, pois eram pessoas imaturas e nem sabiam o significado de empatia. Havia uma garota que era de escola particular e me ofendia muito por eu ser de classe baixa e por estudar em escola pública. O mais engraçado é que eu nunca havia a visto, nem a conhecia. Ela só conhecia minhas colegas de sala, mas eu não tinha contato com garotas de outras escolas na época.
Essas situações duraram quanto tempo?
Havia momentos em que as ocorrências paravam um pouco. Mas, ao todo, durou dos 12 aos 14 anos. Depois que mudei de escola, não necessariamente por esse problema, a situação melhorou.
Esses problemas chegaram a refletir no seu desempenho escolar e nas relações sociais?
Sim. Eu já tinha vergonha de me relacionar com as pessoas, depois disso só piorou. Não conseguia fazer amizades, por me sentir mal de ir à escola, porém, nunca cheguei a faltar por causa disso. Esse problema com bullying e cyberbullying afetaram muito meu relacionamento com as pessoas, passei a ser mais desconfiada das minhas amizades. Hoje em dia só tenho amigos que confio muito. No desempenho escolar, eu não deixava que esses problemas me afetassem demais, pois eu tentava segurar a “barra”.
Como você lidou com a situação? Chegou a falar para alguém sobre o caso, como pais e escola?
Na época havia essa informação de denunciar. Eu falava algumas coisas para minha mãe, mas não dizia tudo, pois não queria que ela ficasse triste. Também não contei aos meus colegas de sala, pois desconfiava de algumas pessoas dali. Eu não me lembro de ter contado à escola, talvez tenha dito algo sim, mas na maioria das vezes segurei sozinha. Eu não aconselho isso a ninguém, pois se eu tivesse contato tudo para a minha mãe, por exemplo, talvez eu me sentisse melhor. Quando a gente guarda tudo pra si, só nos faz mal, por isso temos que procurar ajuda e informação para calar esse tipo de maldade. É muito fácil ofender alguém na internet, mas se essas pessoas são expostas, a situação muda. Seria ótimo se cada ofensor conhecesse de verdade a vida da vítima, como medos e características, para ver que tudo aquilo que disseminou nas redes é tóxico e não faz bem para ninguém.
Qual conselho você daria para alguém que passa por isso hoje em dia?
Duas coisas são muito importantes no momento: falar com alguém de confiança e denunciar o agressor. É bem difícil ver pessoas que denunciem, mas se isso é considerado violência, tem que reportar, sim! E se isso te afetar profundamente, procure uma ajuda psicológica. A saúde mental é muito importante e ninguém pode tirar isso de outra pessoa.
DICA DE SÉRIE
Título: 13 Reasons Why
Divulgação
Ano produção: 2017
Classificação: 16 anos
Gênero: Drama/Mistério
Duração média dos episódios: 56 minutos
Sinopse: Clay recebe uma caixa de sapatos, cujo remetente é sua amiga Hanna. Tudo seria perfeitamente normal, se Hanna não houvesse acabado de tirar a própria vida. Na caixa, encontram-se 13 fitas, nas quais cada uma está direcionada a um personagem da série, que de alguma maneira “contribuiu” para que Hanna tivesse se suicidado. Ao longo dos episódios, os fatos ocorridos com os personagens vão se conectando para que os motivos da morte da protagonista sejam compreendidos. A série aborda de maneira específica os casos de bullying e cyberbullying no meio escolar e como a incidência destes casos pode prejudicar a saúde mental dos adolescentes.
NA BALADA
Fotos/Arquivo pessoal
Roberto Kawasaki, Samara Kalil e Gabriel Buosi, na Expô Prudente 2018
Isabela Souza, Ariane Balbino e Beatriz Monteiro, na Expô Prudente 2018
Lara Leoncio, Natalia Neves, Andrezza Neves e Isabela Souza, na Expô Prudente 2018
AGENDA
HOJE
Palestra: Suicídio: O que é importante conhecer para ajudar a prevenir, com o professor doutor Alexandre Duarte Gigante
Local: Teatro Paulo Roberto Lisboa (Centro Cultural Matarazzo)
Endereço: Rua Quintino Bocaiúva, 749, Vila Marcondes
Horário: 20h
Convite: Gratuito
AMANHÃ
Show: Baco Exu do Blues
Local: Área de Convivência do Sesc Thermas Presidente Prudente
Endereço: Rua Alberto Peters, 111, Jardim das Rosas
Horário: 20h 30
Convite: Retirada gratuita de ingressos 1h antes do show
SEXTA-FEIRA
Show: Josymara (MPB)
Local: Área de Convivência do Sesc Thermas Presidente Prudente
Endereço: Rua Alberto Peters, 111, Jardim das Rosas
Horário: 16h
Convite: Gratuito
SÁBADO
Show: Terra Celta (Rock)
Local: Área de Convivência do Sesc Thermas Presidente Prudente
Endereço: Rua Alberto Peters, 111, Jardim das Rosas
Horário: 16h
Convite: Gratuito