A anemia falciforme é a doença hereditária mais comum entre a população negra no Brasil trazida ao país séculos atrás por conta da escravidão e da imigração em massa. Derivada de uma mutação no DNA gerada pela alta taxa de morte por malária no continente africano, o distúrbio deixa os glóbulos vermelhos em forma de foice, e faz essas células morrerem prematuramente, causando anemia por conta da falta de glóbulos saudáveis, podendo obstruir a circulação do sangue. Presidente Prudente está na quarta região com mais negros do Estado, e tem atenção específica a essa doença.
A pesquisa “Lacunas do conhecimento: Perfil e assistência às pessoas com doença falciforme [DF]”, realizada pela Faculdade de Medicina da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), em parceria com o HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, entre 2015 e 2017, identificou 139 casos de mutações nas células, entre esses, 74 com a anemia falciforme.
Segundo Édima de Souza Mattos, professora responsável pela pesquisa, o projeto já ajudou a identificar os pacientes nas áreas de abrangências de UBSs (Unidades Básicas de Saúde), o que consolidou os tratamentos dos casos em RAS (Rede de Atenção à Saúde). “A partir disso, podemos desenvolver atividades de autocuidados e educação em saúde em relação à patologia, criar um banco de dados, promover a autoestima dos pacientes, e, consequentemente, o aumento da qualidade de vida”, explica.
TRATAMENTOS
E RESULTADOS
No início da pesquisa, foram identificadas lacunas no tratamento dos pacientes, como dificuldades de passar por consultas médicas regulares, demora entre a consulta e os exames, falta de qualidade nutricional para os falcifórmicos, déficit de uma linha de especialidades para a patologia, e problemas sistemáticos na rede de tratamento dos portadores.
“A pesquisa resultou num banco de dados pessoais e clínicos dos pacientes com anemia falciforme na área de abrangência do DRS-11 [Departamento Regional de Saúde de Presidente Prudente], constando nome, endereço, dados pessoais, histórico clínico, município e ESF [Estratégia da Saúde da Família] onde eram atendidos”, explica a professora. Ela ainda destaca que com os dados obtidos foram reconhecidos problemas de atendimento de multiprofissionais e acompanhamento clínico.
Para discutir a saúde da população afrodescendente, o governo estadual realizou o curso “Desenvolvimento da política de saúde integral da população negra no Estado de São Paulo”, e, segundo Édima, se espera que a partir disso sejam recompostos o Comitê Estadual de Saúde da População Negra e os comitês regionais, além de promover o enfrentamento ao racismo institucional ainda presente nos cursos de formação dos profissionais de saúde, além de melhorar o preenchimento do quesito raça e cor nos sistemas de informação de saúde.
A pesquisa, até o momento, conseguiu a implantação do projeto-piloto “Linha de cuidado à saúde das pessoas com anemia falciforme”, proposto pela universidade em parceria com Secretaria de Saúde do Estado, e auxilia em relação à conscientização e cadastramento dos portadores, além de promover a autoestima dos pacientes por ganho na qualidade de vida, entre outros pontos.
Édima pontua que para melhorar a condição dos pacientes, a informação é extremamente importante, assim como a organização dos atendimentos prestados. E orienta: “Se você não passou pelo diagnóstico do teste do pezinho ou não realizou qualquer outro tipo de exame sobre a anemia falciforme, procure o serviço de saúde especializado para a identificação de traços da doença falciformes ou da anemia”.
Veja os sintomas da anemia falciforme
Morte prematura dos glóbulos vermelhos |
Obstrução do fluxo sanguíneo |
Infecções |
Dores derivadas do baixo fluxo sanguíneo |
Fadiga |
Tratamentos disponíveis:
Medicamentos regulares |
Transfusões de sangue |
Em casos rasos, transplante de medula óssea |