As sósias 

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista do tempo do carburador e do platinado nos carros

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 21/11/2024
Horário 05:30

Comerciante ladino, seu Tibúrcio ganhou uma grana preta e de outras cores comprando amendoim e algodão de lavradores simplórios. Com boa lábia, parecendo certos apresentadores da televisão, pagava preços irrisórios pelas safras e pode-se dizer que ficou milionário. 
Casado com dona Margarida e pai de três filhas, Tibúrcio levava a vida na flauta, com muito conforto e comendo do bom e do melhor. A felicidade só não era maior porque o casamento de 30 anos com Margarida já estava mais desgastado do que a relação do Lula com o Milei. 
A esposa achava que o marido, antes um maridão, tinha uma amante. Tinha. E deu um rolo que vou te contar. Elvira, a amante, morava em outra cidade e - vejam só! - ela se parecia fisicamente com a Margarida. Encurtando o papo: a filial era praticamente uma sósia da matriz.
Um detalhe, porém, fazia a diferença, ou seja, diferenciava as duas mulheres: Margarida tinha cabelos curtos, tipo Chanel, e Elvira ostentava uma vasta cabeleira de longos fios que alcançavam, digamos, a altura dos rins (ia dizer outra coisa, mas a expressão rins fica mais elegante).
Tibúrcio queria viajar com a amante e se mandou com ela para o Pantanal, onde se hospedou na casa de um amigo, rico fazendeiro da região. Antes, porém, deu uma desculpa esfarrapada à Margarida, dizendo que faria uma viagem de negócios.
Até que foi legal. Muita pescaria, comida boa e passeios. Tudo estava indo muito bem, mas o comerciante cometeu uma imprudência, um ato falho que macaco velho na arte da conquista amorosa dificilmente comete. Ele apresentou Elvira aos anfitriões como sendo sua esposa.
Depois de duas semanas no Pantanal, Tibúrcio pegou sua "cabeluda" e foi embora. Antes de partir - e como manda a boa educação -, ele convidou o casal anfitrião para visitá-lo em sua cidade no interior de São Paulo: "Apareçam lá em casa. Será um prazer recebê-los", falou o comerciante, torcendo e rezando para não recepcionar o casal em sua residência por motivos óbvios. "Iremos sim", respondeu dona Florinda, a dona da casa, o que fez Tibúrcio tremer nas bases. 
No fim do ano, Florinda e o maridão retribuíram a visita de Tibúrcio e "esposa". Evidente que o comerciante levou um baita susto, pois não esperava tal visita. Convidou por convidar, da boca pra fora. Tremenda saia-justa, baita encrenca, parecendo o arranca-rabo entre os EUA e a Rússia por causa da guerra na Ucrânia.
"Cadê a tua mulher?", perguntou Florinda. "Momentinho! Vou chamá-la", disse Tibúrcio. Assim que Margarida entrou na sala, Florinda se surpreendeu com o cabelo curto da anfitriã: "O que houve? A senhora cortou o cabelo? Estava tão bonito aquele cabelo longo", observou a visitante.
Também surpresa e já ressabiada, Margarida disse que sempre usou cabelos curtos desde os tempos de menina. Tibúrcio não sabia onde enfiar o nariz. O casal quase saiu no tapa na frente do casal visitante.
Depois que a poeira baixou, Margarida chamou o marido às falas. Ela soltou os cachorros para cima do infiel. Tibúrcio estava mais perdido do que o Brasil no 7 a 1 com a Alemanha.
Fez as malas do marido com um sonoro "Rua!" E emendou: "Além da minha parte em dinheiro, faça o favor de pagar a faculdade das nossas três filhas". Às amigas, dona Margarida dizia que não queria mais ver o ex-marido nem pintado de ouro. Revoltada, acrescentava, com ironia: "Também nem pintado de prata ou de bronze eu não quero mais ver esse traste". Como dizia Nhô Simplício, "muié braba é fogo, sô!"

DROPS

Ecologista é o sujeito que leva a Anitta atrás da moita e come a moita.

No país onde vigora a lei do cão não surpreende a portaria 666.

Às vezes, o que é bombástico pode causar mais estragos do que a própria bomba.

Não é por falta de leis que o Brasil deixará de progredir. Temos até as leishmaniose.

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