Aposentado se aventura em trajetos de peregrinação

Caminho da Fé foi o último percurso de Nivaldo Bento Silva: sentindo o cheiro da relva e da terra, vivendo o sossego de gente simples

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 06/08/2016
Horário 10:33
 

Paisagens exuberantes, que parecem esculpidas em um verde indescritível no topo de colinas e montanhas, ou na vegetação rasteira à beira de estradas de terra batida, pisar na areia do mar, ouvir o canto dos pássaros, sentir o cheiro da relva e o sossego de uma gente simples. Estas são apenas algumas das justificativas quais o aposentado prudentino Nivaldo Bento Silva, 71 anos, consegue citar para explicar a satisfação de suas andanças por caminhos que, há dez anos, ele se aventura percorrendo a pé. O último trajeto foi pelo Caminho da Fé, que ele concluiu no dia 24 de julho, onde percorreu cerca de 340 km (quilômetros) em 12 dias.

Jornal O Imparcial Nivaldo e o amigo de infância que o acompanha na maioria das caminhadas, Luiz Garcia

"Esta foi a décima vez que fiz o Caminho da Fé que começa em Águas da Prata e termina em Aparecida do Norte. Ele foi criado por um grupo de amigos que trabalhavam na Secretaria da Fazenda que tiveram a ideia após conhecerem o Caminho de Santiago de Compostela. Atualmente, o trajeto que era de 322 km está com cerca de 580 km, começando próximo a Ribeirão Preto/Cravinhos, atravessando toda a região norte de São Paulo, descendo até Aparecida", explica o viajante.

Por três vezes, Nivaldo fez este percurso sozinho, uma com o filho Henrique Caobianco, mas na maioria de suas aventuras, sua companhia é sempre o amigo de infância, de viola e serenatas, Luiz Garcia Flores Leal, que mora em Ribeirão Preto.

O próximo projeto de Nivaldo já é estudado para ser realizado em outubro. Conforme ele, no Caminho de Aparecida, que começa em Alfenas (MG), atravessa toda a serra da Mantiqueira descendo para Aparecida. "Esse trajeto é concorrente do Caminho da Fé, com praticamente a mesma extensão. Pelo que estudamos, a passagem parece ser bem complicada, com pouca estrutura, mas, temos que fazer para saber como é realmente", frisa o aventureiro.

 

Experiências únicas


De acordo com Nivaldo, no Brasil há vários caminhos que foram baseados há cerca de dez a 15 anos, no Caminho de Santiago de Compostela, como, além de São Paulo, em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E ele já percorreu vários deles, como o Caminho do Frei Galvão; Caminho Passos de Anchieta, no Espírito Santo – Vitória e o Caminho de Compostela, indo de Saint Jean Pied de Port, pequena cidade medieval no sudoeste da França, na fronteira com a Espanha, totalizando 840 km, durante 32 dias.

Para chegar até esses lugares o meio de locomoção pode variar entre ônibus, carro ou avião. E depois seguem seu destino a pé. "Por onde passamos somos surpreendidos por paisagens exuberantes, que não estamos acostumados a ver nas cidades. Encontramos pessoas de culturas e ideias diferentes. Gente simples que está acostumada com toda a beleza da natureza que os rodeia, porque são presenteadas com ela todos os dias. A cada manhã! Vivenciamos fatos curiosos todo o tempo. Então, com uma câmera fotográfica procuro registrar tudo que posso!", exclama o aposentado.

Conforme Nivaldo, ao longo desses anos sua lista de amigos foi se estendendo, porque muitos foram os peregrinos, andantes, caminheiros, viajantes, encontrados por cada "pedacinho de encantos do Brasil".

 

Caminhando eu vou

Dentre os caminhos mais difíceis que Nivaldo já percorreu, ele cita o da Estrada Real, que tem uma extensão de 400 km, começando em Diamantina, norte de Minas, indo até o Rio de Janeiro. "Saímos de Diamantina até Ouro Preto. No trajeto falta apoio, às vezes andávamos até 40 km para chegarmos até algum estabelecimento, casa ou encontrar pessoas. Na verdade esse percurso foi feito para explorá-lo de carro. Inclusive falei para uma estudante que estava defendendo uma tese sobre esses caminhos mineiros, que eles têm um caminho muito bonito, mas não possuem preparo para receber caminhantes", revela Nivaldo.

Também difícil é o Caminho de Frei Galvão, que começa na divisa do Estado de São Paulo, sobe a serra, passa por Campos do Jordão e vai até Guaratinguetá. "Apesar do percurso ser de apenas 200 km, é complicado porque é todo feito por cima das montanhas. Em compensação, o Caminho de Passos de Anchieta é o mais fácil tanto em acomodação, quanto para caminhar. Em quatro dias dá para caminhar uns 100 km, só no plaino, por praias maravilhosas. É bastante prazeroso", ressalta o viajante.

Já o mais longo que Nivaldo fez, foi para Santiago, que durou 32 dias totalizando 840 km. "Fomos de Pamplona até Saint Jean Pied de Port, atravessamos o norte da França até Santiago. Tenho vontade de fazer este caminho novamente!", destaca o peregrino.

 

Incríveis direções


Engana-se quem pensa que Nivaldo começou suas caminhadas porque gostava de andar a pé. Não. Isso só ocorreu depois de anos como professor formado em Matemática, Pedagogia, Química e Direito e por décadas de trabalho nas secretarias de Segurança Pública e da Fazenda.

Sua primeira aventura foi em 2009, pelo Caminho da Luz, em Minas Gerais. Um planejamento extenso foi feito, como onde iriam dormir, se alimentar, o que precisavam levar, quais as despesas teriam. Hoje isso já é bem mais fácil, a mochila já fica pronta com antecedência com os equipamentos essenciais como tênis confortável, meias grossas, roupas leves, chapéu e protetor solar, que é indispensável.

"Quem está por esses caminhos, não tem acompanhamento médico, policial... é algo bom onde você deixa tudo que é cômodo para trás e com a mochila nas costas e o cajado na mão, segue por caminhos que te levam a incríveis direções", denota.

"Gostaria de ver uma exposição de suas fotos, em algum espaço de Prudente, mostrando a beleza singela, mas magnificamente bela, de pedacinhos do nosso Brasil tão imenso!", exclama a esposa do viajante, a escritora Iracema Caobianco.

 
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