As gêmeas de Piquerobi, Allana e Mariah, de 2 anos e 8 meses, completaram uma semana de recuperação após a cirurgia de separação dos corpos. As irmãs eram unidas pelo crânio. De acordo com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (SP), "as meninas se encontram em boa evolução, já se movimentando e respondendo a estímulos, com a retirada progressiva da sedação".
Elas estão sob o cuidado da equipe de saúde e dos pais Talita e Vinicius.
A última cirurgia para separação total das gêmeas terminou às 8h do domingo, dia 20 de agosto. O procedimento, que começou no sábado, durou cerca de 25 horas e envolveu 50 profissionais.
A equipe de neurocirurgia do hospital, liderada pelo médico Hélio Rubens Machado, fez a dissecção de cerca de 25% dos vasos sanguíneos restantes. Os demais 75% já haviam sido separados nas três neurocirurgias anteriores, que ocorreram em agosto e novembro de 2022 e março deste ano.
A equipe da cirurgia plástica, liderada pelo médico Jayme Farina Junior, foi responsável pela cranioplastia. O procedimento fez o fechamento da calota craniana e da pele que recobre a cabeça de cada uma das meninas.
A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich. “Até os anos 1990, a cirurgia era realizada em só uma oportunidade. Com isso, os cirurgiões passavam de 24 até 36 horas no centro cirúrgico e os resultados não eram efetivos, já que fazer a separação de toda a circulação que se comunica parcialmente em uma única vez trazia um sério comprometimento cerebral para as crianças e poucas sobreviviam”, explica o chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Rubens Machado. “Assim, ele [Goodrich] desenvolveu a técnica chamada de estagiada: são quatro etapas como se fossem os pontos cardeais, completando todo o perímetro”, completa.
A equipe multidisciplinar acompanha as meninas desde 2021, quando ainda estavam na barriga da mãe.
A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos.
No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018 – após cinco procedimentos cirúrgicos – pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. O caso foi acompanhado pelo próprio médico James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por Covid-19 em 2020.