Animais de estimação e fogos de artifício: como lidar como medo dos pets na virada do ano

Barulho dos fogos pode causar medo, estresse, ansiedade, aumento da pressão arterial e, em casos extremos, pode levar à morte súbita

PRUDENTE - Cassia Motta

Data 29/12/2024
Horário 08:30
Foto: Cedida
Barulho dos fogos causa grande estresse na cadela Maya
Barulho dos fogos causa grande estresse na cadela Maya

As celebrações de fim de ano e outros eventos festivos são marcados pelo uso de fogos de artifício. Embora possam encantar os humanos, para os animais de estimação, o barulho desses artefatos é motivo de grande sofrimento. 

O som intenso e repentino dos fogos pode causar medo extremo, estresse, ansiedade e até problemas físicos, como taquicardia ou tentativas de fuga, que colocam os bichinhos em risco. 

Segundo o médico veterinário e sócio-proprietário da Clinvet, em Presidente Prudente, Rafael Severino Rodrigues, o pânico gerado pelo barulho dos fogos de artifício pode causar aumento da frequência cardíaca, pressão arterial elevada, síncopes (convulsões), ferimentos, fraturas e quedas em tentativas de fuga, e, em casos extremos, pode até levar à morte súbita por parada cardiorrespiratória. “O barulho dos fogos funciona como um gatilho de alerta, ativando o mecanismo de luta ou fuga, devido à sensibilidade auditiva muito maior dos animais em relação aos humanos. Animais ansiosos, deprimidos ou vítimas de maus-tratos tendem a interpretar essa situação de forma ainda mais negativa”, explica o veterinário.

Cuidados com os pets

Felizmente, existem formas de ajudar os pets a enfrentar esses momentos com mais segurança e tranquilidade. De acordo com Rafael, os tutores devem identificar seus pets para facilitar o reconhecimento em caso de fuga. Além disso, é essencial ter em mãos o contato de um médico veterinário disponível 24 horas e próximo à sua localização. “Para animais com histórico de distúrbios comportamentais, cardíacos ou epiléticos, é fundamental consultar um veterinário com antecedência. O profissional poderá avaliar o pet e prescrever medicamentos adequados, como agentes psicoativos, nutracêuticos, feromônios sintéticos ou florais de Bach, de acordo com a necessidade individual”.

O veterinário explica ainda que, além de cães e gatos, aves e roedores também sofrem muito com situações de estresse, sendo extremamente sensíveis ao barulho dos fogos de artificio e a agitação do ambiente.

Como reduzir o estresse dos pets

O veterinário explica que há maneiras de reduzir o desconforto dos animais de estimação durante a queima de fogos. “Os tutores precisam manter a calma, evitar palavras e atitudes bruscas, e preparar um espaço seguro e aconchegante para que o animal se sinta protegido. Pode também ligar a televisão ou colocar música, aumentando gradualmente o volume para ajudar a abafar o som dos fogos”.

Mas, o mais importante, segundo Rafael, é que as pessoas se conscientizem do impacto que os fogos de artificio têm na saúde dos animais. “O melhor é escolher fogos de baixo ruído e soltar em locais abertos e afastados de áreas residenciais. Além disso, é essencial lembrar dos animais silvestres, e evitar a proximidade com vegetação reduz o risco de incêndios e outros danos ao meio ambiente”.

Fuga por conta dos fogos

O publicitário Daniel Matheus Marques, de Prudente, sabe bem como os fogos de artificio nesta época do ano provocam estresse na Maya, a cachorra da raça border collie, que tem 5 anos. “Ela fica desesperada, extremamente ansiosa”. Daniel conta que por duas vezes Maya fugiu no ano novo por conta dos fogos de artificio. “Fui passar o ano novo na praia e deixei a Maya com meu pai e quando começou o estouro dos fogos, não teve portão, não teve janela que segurasse a Maya. Num outro ano deixei ela com minha irmã, e o mesmo aconteceu”.

Agora Daniel passa o ano novo - ou melhor - o tempo que dura a queima dos fogos, com a Maya em um quarto da casa, todo fechado. “Não vou pra lugar algum que eu não possa levá-la. Então, prefiro ficar em casa, com ela, tentando acalmá-la, enquanto as pessoas soltam os fogos. É um sofrimento absurdo o que ela passa. Se já existe lei para soltar apenas fogos com baixo ruído, porque não cumprir? Esses animais sofrem muito por conta disso”, ressalta.

SAIBA MAIS

No Estado de São Paulo existe a Lei 17.389/21, que proíbe a soltura, comercialização, armazenagem e transporte de fogos de artifício com estampido. A lei busca o bem-estar de parcelas da população que possuem sensibilidade a ruídos, como idosos e crianças, além do cuidado com animais de estimação, que são afetados pelo barulho gerado durante a queima de fogos. A lei não proíbe a venda e o transporte de materiais pirotécnicos ruidosos para outros Estados e países.

Além disso, o Senado aprovou o Projeto de Lei nº 5/2022, que proíbe a fabricação, o armazenamento, a comercialização e o uso de fogos de artifício que produzas barulho acima de 70 decibéis. O projeto de lei 220/23 proíbe o comércio de fogos e artefatos pirotécnicos que emitam qualquer tipo de som em todo o território nacional.

Já em Presidente Prudente, um decreto de 2017, proíbe o uso de fogos de artifício com efeitos sonoros em qualquer evento promovido pela Prefeitura. A medida é para evitar prejuízos à saúde homem, em especial, de crianças, idosos, pessoas com transtornos mentais, síndrome de Down, autistas e de pessoas com deficiência auditiva que utilizam aparelhos, além também dos graves efeitos causados aos animais como fugas, atropelamentos, distúrbios digestivos, quedas de janelas, entre outros prejuízos.

Fotos: Cedidas


Veterinário Rafael Severino Rodrigues: “O barulho dos fogos funciona como um gatilho de alerta, ativando o mecanismo de luta ou fuga”


Daniel Matheus Marques e sua cachorra Maya

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