Mora num pequeno apartamento em frente ao Minhocão. O barulho dos carros acorda sempre seu filho. Sozinha, Ana Maria cria esse filho, fruto de uma rápida transa, em alguma balada louca da solidão da cidade grande. Ainda desperta tesão nos homens. É uma prisioneira da sua própria carência. Teve sonhos de se casar de véu e grinalda com Amarildo, seu noivo, que morreu num trágico acidente. Tão nova, tão cheia de vida, tão gostosa, tão meiga, tão romântica, mas o destino com suas armadilhas tinha outros planos para ela.
O tempo de luto se passou. Ana Maria já não quer se casar de véu e grinalda, quer curtir a vida sem compromissos. Mudou para São Paulo com o coração pronto para viver de pecados. Conhece Cícero "Boca Livre", um vagabundo, que vive nas noites, puxando saco dos filhos da alta roda paulistana. Um palhaço desses babacas endinheirados. Toda festa, lá estava Cícero “Boca Livre”, nunca pagou nada. Mostrou esse mundo fantasioso para Ana Maria. Ela conhece os ditos garotos de ouro e se encanta.
Cícero ganha pontos, mora na periferia de São Paulo e vem de família honesta e humilde. O mundo que Cícero queria não era de trabalho, de levantar cedo, pegar ônibus lotado e muito menos ter a ousadia de viver uma vida honesta. Ana Maria se encantou com esse mundo onde tudo pode para os ricos. Eles são vampiros emocionais e querem sugar tudo que o dinheiro pode comprar. Querem chupar a inocência de quem ainda as tem, querem destruir sonhos nas transas sensuais, tatuam sofrimentos nas almas iludidas, fazem sexo com Viagra, bebem, cheiram, andam em alta velocidade e não sabem que a vida é injusta pois nunca perderam nada, acham que o mundo é deles.
Ana Maria tem o filho com um desses filhinhos de papai. Romeu pede para ela fazer aborto. Mas ainda tinha sobrado um pouco de moral cristã na sua confusa consciência. É humilhada por ele, ofendida: Quer dar o golpe do baú engravidando? Sua safada, você acha que essa gravidez vai me prender? Quer o dinheiro do meu pai? Naquele instante sentiu a falta da educação, do carinho, do respeito de Amarildo. Mas ele não era Amarildo.
Continuou sendo insultada, levou um soco no rosto, caiu assustada, um chute no estômago fez dela um saco de pancada. Saiu toda machucada, humilhada. Não fez um BO de medo, não acreditava na justiça, afinal Romeu é filho de um importante banqueiro. Foi procurada pelo Dr. Felício Bulhões Neto, advogado de Romeu. Amedrontada assinou vários documentos abrindo mão de qualquer indenização. Ela só quis viver um pouco de ilusão dos seus pecados.
