Região onde predominam as pastagens e que a estiagem costuma ser intensa, o oeste do Estado de São Paulo tem um cenário desfavorável aos produtores rurais no período de estiagem. Os criadores de animais já buscam alternativas para manter os animais bem alimentados. O engenheiro agrônomo João Menezes, especialista em Alimentação Animal e acostumado com essas características climáticas da região, diz que os produtores normalmente já se precaveem, porém, este ano, a seca começou mais cedo, com locais onde não chove há mais de 30/ 40 dias e outros há quase 60 dias. “Há um déficit hídrico muito grande que prejudica não só as pastagens, mas também as lavouras de soja, milho e outras, ou seja, é um cenário ruim para o agricultor e para o pecuarista, que necessita de farelos para suplementar a alimentação do gado”, explica Menezes, que é responsável pela Casa da Agricultura de Anhumas, da área de atuação da CDRS Regional Presidente Prudente.
“O produtor foi pego despreparado para enfrentar essa situação, porque a seca veio muito mais cedo do que o esperado e mesmo quem já vinha comprando suplementos, como o feno, por exemplo, está utilizando antes do desejado, porque já está faltando forragem para o gado no pasto. Aliado a isso, com a quebra da safra, os preços dos grãos estão muito elevados”, avalia o técnico, que vem conversando com os produtores e ouvindo suas preocupações, na tentativa de verificar as alternativas viáveis para enfrentar este ano difícil sob todos os aspectos.
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Menezes: “Há um déficit hídrico muito grande que prejudica não só as pastagens, mas também as lavouras de soja, milho e outras; é um cenário ruim para o agricultor e para o pecuarista”
Segundo João Menezes, de agora em diante e durante todo o período que perdurar a estiagem, há três estratégias que podem ser utilizadas para minimizar a situação. A mais viável e barata é o pasto diferido, ou seja, o produtor reserva uma área de pastagem para usar na época da seca, mas este ano até essa estratégia está complicada, porque como a seca começou antes, foi preciso utilizar essa área diferida/reservada por já estar faltando pastagem.
A segunda estratégia costumeiramente utilizada pelos pecuaristas é promover a suplementação volumosa. Para isso, é preciso que o produtor tenha se preparado e cultivado seu volumoso a tempo, para alimentar o rebanho na seca. Portanto, poderia ter cultivado feno, milho e/ou sorgo para produção de silagem, cana-de-açúcar e capineiras, como o capim-elefante napier ou o capiaçú, este último uma cultivar da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que tem apresentado uma produtividade elevada de massa. As silagens de sorgo e milho são mais caras para serem produzidas, pois são culturas mais exigentes e suscetíveis às intempéries climáticas, porém produzem um volumoso de melhor qualidade.
Temos, ainda, dois tipos de feno, aquele produzido com a finalidade de alimentação animal, com qualidade nutricional melhor, mas também mais difícil e caro de ser produzido. E há o feno resíduo da produção de sementes, cujas regiões abrangidas pelas CDRS Regionais de Presidente Prudente e de Presidente Venceslau são reconhecidas no Estado de São Paulo pela produção de sementes forrageiras. Neste caso, é a palhada que sobra dessa atividade que é oferecida como resíduo ou subproduto para suplementação da alimentação do gado. “O custo é menor, porém a qualidade e o valor nutricional também são mais reduzidos”, avalia João Menezes, mas há boa disponibilidade na região.
O diretor da CDRS Regional Presidente Venceslau, médico veterinário Felipe Melhado, concorda que este ano foi bom para o cultivo do feno, porque choveu na época certa durante a produção e agora está sendo colhido também na época oportuna, ou seja, de seca, pois neste caso as chuvas acabariam comprometendo a colheita e, consequentemente, a produção. “O que atrapalha o produtor é a chuva, pois não se consegue enleirar o feno se estiver chovendo, há muita perda. Mas o que está ocorrendo é uma superprodução desse capim cortado, que é um subproduto da produção de sementes forrageiras para formação de pastagens. É ótimo subproduto para quem precisa alimentar o gado com um custo mais baixo. Porém, este ano, até esse subproduto está com preço mais alto; o volume que foi vendido a R$ 25 no ano passado, este ano já está custando R$ 35, e a procura para armazenar alimento para o gado para o pior período de estiagem tem sido grande”, afirma Felipe Melhado. A área de plantio abrangida pela CDRS Regional Presidente Venceslau é de mais de 20 mil hectares, que se revertem nesse subproduto.
A terceira alternativa, comenta João Menezes, são as capineiras, como o capim-elefante napier ou capiaçú, que são forrageiras que produzem no verão e estão no ponto ideal para serem cortadas para a produção de silagem ou, ainda, podem ser deixadas no campo para cortar no período da seca, para oferecer ao gado no cocho. Segundo o especialista em Nutrição Animal, “a qualidade nutritiva não é muito boa, mas são de fácil produção e fornecem uma considerável produtividade por área”.
E há a alternativa já bastante utilizada pelos produtores, que é a da cana-de-açúcar, a qual apresenta um valor nutritivo médio, mais baixo do que da silagem de sorgo e milho, porém mais alto do que o capim passado. “Além disso, conta com a vantagem de poder ser colhida na época da seca, quando há maior necessidade de se fazer a suplementação alimentar do gado. Exige mais cuidados com a cultura no campo, porém, nessa época da seca, com a ureia pecuária adicionada, é importante na alimentação do gado. E é uma estratégia tanto para gado de leite quanto para o gado de corte. Dá mais trabalho, porque precisa ser cortada todo dia para oferecer aos animais, mas é uma boa e conhecida alternativa utilizada pelos pequenos pecuaristas”, argumenta Menezes.
Ainda há uma quarta alternativa: tratar os animais com concentrados, como as rações. É, sem dúvida, a opção mais cara, porém a mais fácil. Segundo João Menezes, o pecuarista tem que avaliar e considerar se, com a alta do preço dos grãos e da suplementação mineral, somadas às condições climáticas totalmente desfavoráveis, não valerá a pena investir nos seus animais, não deixando que passem fome ou até venham a morrer por falta de alimento. (Com informações da Secretaria da Agricultura de SP)
“O cobertor é curto” (...) “Precisamos do orçamento para saber sobre o tamanho do Plano Safra para este ano”.
Ministra da Agricultura Tereza Cristina, em audiência na Câmara dos Deputados na quarta-feira, dia 5, ao pedir aos deputados rápida aprovação do projeto do governo que abre crédito suplementar de R$ 19,768 bilhões para o Orçamento (PLN 4/21), para viabilizar o terceiro Plano Safra, para o biênio 2021-2022, que começa em 1º de julho.