O que vou fazer da minha vida agora? Eu, vivendo entre sonhos e realidades, preso nas minhas dúvidas e incertezas, ficava me perguntando depois de largar o 4º ano de Psicologia. E agora?
Meu amigo Gringo me ligou e me convidou a passar o tempo necessário com ele na cidade de Curitiba. Lá fui eu sentir o terrível frio na cidade paranaense. Era 1979, ano de grandes acontecimentos no mundo. A invasão da Rússia no Afeganistão, a Guerra Fria estava de volta. No Brasil, a Lei da Anistia foi sancionada e aprovada, permitindo o retorno dos exilados políticos.
Já namorava a Mulher Maravilha. Meu amigo Gringo me deu todo o apoio moral e financeiro nesse momento incerto da minha vida. Sou eternamente grato a esse amigo. Como nós dois sempre gostamos de música e de cinema, fomos assistir um filme chamado “Alien, o oitavo passageiro”. O filme, dirigido por um tal Ridley Scott, estava sendo muito badalado. Os críticos diziam que era uma revolução no gênero terror- ficção. Nem prestamos atenção nesse detalhe. Muitas vezes a paixão pelo cinema lhe tira a razão. E assim eu, Gringo e sua namorada de apelido Baiana, muito gente boa, sentamos no meio do cinema. Que gelada que iríamos entrar.
Eu que sempre fui medroso e sugestionado por filmes de suspense ou de terror, que até hoje quando vejo alguém entrando no mar começou a gritar: Shark, Shark... um vexame total. Não gosto de praia e nem de mar por causa do filme “Tubarão”. Um pesado trauma que nem o pai da psiquiatria, Sigmund Freud, me curaria. Todos sabem o enredo desse tal filme “Alien”. Se não souberem procurem no Google, senão o meu amado patrão, Sinomar, vai me chamar a atenção. Tenho que obedecer as 2.700 caracteres de espaço da coluna do jornal O Imparcial.
Começa o filme num visual sinistro. Quando aquela coisa nojenta pula e gruda na cara do personagem Kane, eu chamei minha mãe, Da. Mariana. E a tensão vai aumentando. Rapaz, quando a gente vê aquela icônica cena do bicho rasgando o peito do personagem Kane, com aquela aparência horrorosa, entrei em pânico e segurei forte na mão da Baiana, que gritou de medo e de dor. Oh mãe, cadê a senhora? Oh Maria Célia Macuco, não vai me chamar de mimado. Me ajude aí.
A gente está acostumado em filmes dessa natureza, onde a tensão fica a milhão, agarrarmos na figura do mocinho. Ele nos faz sentir seguro. Até nisso esse filme inovou e surpreendeu. O Capitão Dallas, que pensávamos que fosse o mocinho, foi o primeiro a morrer por esse detestável e sanguinário monstro. Eu me senti sem pai e sem mãe. Pqp. A Tenente Ripley, uma mulher, seria a mocinha? Eu com meu machismo idiota não me senti seguro. E a tensão aumentava a cada cena e ela foi passando astúcia e segurança.
Eu agarrado com as duas mãos quase arrancando os braços da cadeira. O cenário escuro, com aquelas luzes vermelhas piscando, num som irritante da nave Nostromo, assustava até Jesus Cristo. O Xenomorfo com sua altura, sua astúcia de um alienígena, sua forma era uma máquina perfeita de matar. Foi inspirado numa pintura chamada Necronon IV do pintor suíço surrealista Hans Ruedi Giger (in memoriam). Esse cara devia estar doidão para ter pintado e inspirado o monstro mais aterrorizante da história do cinema. Eu estava me sentindo o "Nono" passageiro da agonia. Que sufoco.
E a cena final? Quando a Tenente Ripley, interpretada pela atriz Sigourney Weaver, vence o monstro. Que alívio. Eu me comportei como se estivesse na arquibancada junto com as Gaviões da Fiel vibrando com um gol de Sócrates no último minuto, numa final de campeonato contra o arquirrival Palmeiras e disse: Chupa seu €¥₩##... Salve as mulheres, salve a Tenente Ripely. Saí do filme e virei um defensor incondicional dos direitos femininos, afinal fui salvo por uma mulher. Vejam vocês.