Numa sexta feira de manhã recebo uma ligação pelo celular:
Alô!
Oh Magrão onde você está?
Alemão?
Magrão você não vai acreditar. Quem morreu?
Pô, tá pensando que sou um coveiro.
O que foi? Rapaz, acho que peguei Covid. Ih cacete, viraste um lebroso? Estou isolado como Napoleão na ilha de Elba. O que sentiste? Acordei cedo com uma dor no joelho e singrei os sete mares da realidade rumo ao médico ortopedista, Dr. Igor. Cheguei lá, ele me atendeu com sua educação de sempre e me disse que era problema de menisco. Oh loco Alemão, você jogou bola a vida inteira e nunca se machucou e agora vem com essa parada aí. Pois é. Ele pediu uma ressonância e uma radiografia do joelho e eu fui no Jaimão Barbosa.
Cheguei lá, me senti desconfortável vendo todos presentes com máscaras. Ué você esperava o que? Que todos estivessem de biquíni ou de maiô? Estamos na era da pandemia. Mas que é desconfortável isso não podemos negar. E ai? Quando chegou a minha vez, a atendente muito educada me olha firme nos meus olhos. Que isso Alemão? Não vai me dizer que nessa troca de olhares você declamou uma poesia de Drumond? Pô Magrão, a coisa é sinistra. Para mim não seria nenhuma surpresa você trilhar o caminho do “Explode Coração”. Se tornaste um idoso conquistador. Quem diria hein. Mas segue o jogo. Ela olhou firme nos meus olhos e disse: O Sr. está se sentindo bem? O Sr. foi fo... hein Alemão. Você queria o que? Tô com mais de 60 né. Eu disse que sim e perguntei o porquê da pergunta com um frio na barriga.
Os olhos do Sr. estão vermelhos. Pqp Sr. de novo não dá né. Deixa eu terminar isso logo. Tá bom. Realmente os meus olhos estavam ardendo um pouco. A atendente era bonita? Para de encher o saco e me deixa terminar essa gelada. Ela pegou minha mão esquerda e... Hum que romântico. Magrão não enche, você só pensa nisso. Vou pensar em que? Aos 48 minutos da prorrogação perdendo de 3 a 0 para o tempo, que deixou a juventude perversa do meu coração que só entendia o que era cruel, e o que era paixão. Só você mesmo nessa agonia que estou vivendo e você citando Belchior. Segue o jogo.
Pois é. Ela mediu a temperatura e deu quase 38 graus. Fu... de vez Alemão. Nessa hora entra o Jaimão que entende mais de radiologia que o Pierre Cardin entendia de camisa. Kkk você lembrou daquela passagem dos Malacos entre você e o Jaimão kkk. Aquela é inesquecível. E dai? O Jaimão entrou direto seguindo o protocolo da Covid dizendo: Nada de radiografia do joelho, vamos fazer uma do seu pulmão. Eu gelei Magrão. Alemão me diz uma coisa. O que? Covid passa pelo celular? Não brinca cacete. Calma tô tentando amenizar esse drama. Depois de tirar a radiografia do pulmão o Jaimão me aconselha a procurar um infectologista. Fui procurar o Dr. Rosas Junior. Ué. Mas o Dr. Junior não é cardiologista? Que confusão, Alemão.
Falando no Dr. Rosas Junior, me deu saudades da Marcinha Rosas (in memoriam). O Junior é gente finíssima e lembra muito o seu pai, Dr, Rosas, que era um gentleman. O Junior viu a chapa do meu pulmão, disse que eu estava bem e que iria seguir o tratamento da Covid. Os remédios entraram em campo sedentos para ganhar esse jogo contra esse vírus maldito: Azitromicina, corticoide, zinco, ivemectina, cloroquina, etc.. Que timaço hein, Alemão. O duro foi o teste Magrão. Que teste? Pô, o cara enfiou um cotonete de meio metro no meu nariz que me deu saudades do exame de próstata. Eu que pensava que era o pior exame que eu tinha experimentado. Ledo engano. Meu pobre nariz foi estuprado sem vaselina. Não parava de espirrar. Que exame é esse? Magrão o cotonete cutucou a minha nuca.
Alemão é melhor nós conversarmos sobre Rembrandt olhando o quadro, “A lição de Anatomia do Dr. Lup”, escutando a “Divina Comédia Humana”, de Belchior. Santo remédio Magrão. Vamos nessa. Vejam vocês.