Adoecimento psíquico na atualidade: afinal, por que hoje sofremos ainda mais?

OPINIÃO - Maria Rita Bernardes

Data 12/12/2024
Horário 04:30

Sem dúvida alguma as conquistas trazidas pela pós-modernidade nos oferecem possibilidades nunca antes imaginadas. Os avanços científicos celebram uma era onde a capacidade humana de superar limitações e transpor obstáculos é evidente, mas ainda assim os sintomas de padecimentos psíquicos insistem em aumentar... A velocidade de circulação das informações impõe um aceleramento na comunicação e produtividade, roubando dos seres humanos a possibilidade de viverem com qualidade e entrega o momento presente, e de estabelecerem vínculos de qualidade.
Vivemos em uma sociedade em transição de valores, hábitos e possibilidades, onde cada vez mais contamos e dependemos das facilidades da Inteligência Artificial, dos variados aplicativos, do Google, fast foods e deliverys a nos servir, recursos que silenciosamente tornam dispensáveis as trocas humanas, e o afeto que circula nesse espaço de interação.
Imersos nesse contexto, temos quase tudo ao nosso dispor, desejos e necessidades se transformam em objetos de consumo e prazer imediatos, e ainda assim a espécie humana nunca antes esteve tão insatisfeita, desamparada e solitária. Não é a toa que, segundo o CFF, as vendas de medicamentos para saúde mental cresceram 59% nos últimos anos; ansiedade e depressão se tornaram uma epidemia mundial.
Essa fenda social criada pelo novo padrão experimentado, aos poucos nos faz migrar da condição de seres de afeto para seres de consumo, situação agravada quando essa lógica se transpõe para os relacionamentos (amizades, familiares, parceiros afetivos), sendo esses enxergados mais como um produto da própria satisfação, sujeitos ao descarte, do que vistos como seres de vontade própria e sentimentos.
Relacionamentos não são supermercados, exigem entrega e manutenção, cobram um preço maior do que o dinheiro pode comprar, e tampouco o sedex é capaz de trazer. Não devemos nos enganar, nem mesmo nos distrair. A cura não está no “tarja preta”.
O esgarçamento que tem se instalado nos laços humanos deixa assim a todos muito frágeis, superficiais, isolados e inseguros, e capturados por esse sistema, perdemos muito de nós mesmos  e pouco temos do outro, circunstância que exige atitudes conscientes para que encontros de qualidade sejam novamente  priorizados . Precisamos reaprender a arte da entrega, pois é disso que nossa alma se nutre e nossa saúde prospera.
 

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