A zona de perigo

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 12/09/2021
Horário 05:30

O sol está cada vez mais ensolarado em Havana. Os mafiosos estão sorrindo como nunca sorriram, transformaram Havana numa Las Vegas do Caribe. Com as bênçãos do presidente Eisenhower, dos capitalistas de Wall Street e do Big Boss do FBI, J. Edgar Hoover. As montanhas de dinheiro simbolizam mais poder e, para a máfia, o dinheiro é Deus. 
Sob uma atmosfera de festas, de orgias, de suor e de rum, os chefões vão adorando seu bezerro de ouro: ópio da Ásia, heroína vindo da Tailândia, mulheres de todos os lugares, 300 mil gringos passando anualmente pelos cassinos e que vão embora na sua grande maioria na lona, ganhando no máximo uma doença venérea ou uma insolação. 
Uma das maiores centrais sindicais americanas investe em Havana seus polpudos fundos de pensão, sem se importar com o futuro de seus filiados. As cadeiras dos hotéis Hilton e PanAmerican também entram nessa roda da fortuna. Meyer Lansky se sente em casa, é conselheiro particular do ditador Fulgêncio Batista. O mafioso Santo Trafficante controla as boites e casas noturnas, Johnny Rosselli é uma visita constante e Carlos Marcello é o responsável pela lavagem de dinheiro vindo do golpe de Estado na Guatemala patrocinado pela CIA. 
Em Havana, no final dos anos 50, tinha mais de 270 bordéis e eram famosos e bem servidos. Vendiam mulheres mestiças, negras e brancas, os turistas degustavam como se estivessem comendo um prato recheado de filé mignon. John F. Kennedy era uma das personalidades que vinha desfrutar desse paraíso do prazer. Chegou a ser protagonista de um escândalo quando foi para a cama com a mulher do embaixador da Itália para depois em seguida já de volta ao hotel manda subir algumas chiquitas alegres para ganhar dinheiro e dar prazer para o futuro presidente dos Estados Unidos.
Nas ruas, o povo grita: Viva La Revolucion! Mas os ouvidos dos poderosos só escutam o tilintar das moedas e os gemidos de prazer. No dia 1º de janeiro de 1959, um guerrilheiro barbudo chamado Fidel Castro entra em Havana com sua revolução, tomando o poder desmanchando o prazer da Las Vegas do Caribe. Fulgêncio Batista foge com 40 milhões de dólares e se exila na República Dominicana. Santo Trafficante, o chefão da máfia da Flórida, é jogado na prisão. Mayer Lansky sai às pressas deixando 20 milhões de dólares em dinheiro vivo. A festa acabou e todos agora querem a morte de Fidel Castro. 
Jack Ruby, o pequeno gângster de Dallas, é encarregado de negociar a libertação de Trafficante, em troca de uma entrega de armas. A CIA faz um acordo com os mafiosos Sam Giancana e Johnny Rosselli: se eliminar o barbudo terão seu dinheiro de volta. JFK está ocupado demais com sua eleição e não quer perder tempo com essa estupidez. Mas mal sabia ele que essa estupidez vai fazê-lo perder tempo seriamente. O resto da história, todos sabem como termina. O mar da história é agitado, trazendo sempre cheiro de pólvora no ar.
 

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