“Mulher-Maravilha 1984” já é um sucesso no universo cinematográfico da DC. O longa, dirigido por Patty Jenkins, representa uma obra repleta de mensagens de esperança e de louvor para com as virtudes cardeais. O filme explora o simbolismo da personagem central e a retrata como uma heroína cuja essência não reside tão somente na força bruta e na violência, mas encontra-se associada aos valores de altruísmo, amorosidade e justiça.
No enredo, Diana enfrenta uma enorme ameaça conspirada pelo empresário Maxwell Lord, cujas intenções consistem na utilização de um poderoso artefato milenar capaz de satisfazer os desejos do coração humano. Lord procura alcançar o ápice do sucesso e da fama a partir da satisfação dos desejos e vontades das pessoas. Ademais, o cenário provocado pela satisfação dos desejos de inúmeros indivíduos acarreta num colapso mundial potencializado pelo contexto da Guerra Fria e dos perigos de uma guerra nuclear.
O filme traz uma profunda reflexão acerca dos desejos, da vontade inequívoca humana de realizá-los, dos perigos da ambição exacerbada e do individualismo. Nesse sentido, é possível estabelecer um diálogo com a filosofia do pensador alemão Arthur Schopenhauer, o qual afirmava: “A vida humana, pois, passa-se toda em querer e em adquirir. O desejo, por sua natureza, é dor: sua realização traz rapidamente a saciedade: o objetivo não era mais que uma miragem; a posse mata todo o encanto; o desejo ou a necessidade de novo se apresentam, sob nova forma: se não, é o nada, é o vazio, é o tédio que chega.” Em última instância, a busca incessante pela satisfação dos prazeres e desejos é inútil, pois é incapaz de oferecer ao homem uma realização plena. Ademais, o vazio existencial presente no coração dos homens é infinito, incapaz de ser preenchido pela finitude dos bens temporais.
A determinação inequívoca de concretizar os próprios desejos provoca a soberba, a incredulidade egocêntrica, a ganância, a filáucia, a pleonexia e o amor desordenado de si mesmo. Buscar tão somente os interesses particulares, os desejos e prazeres individuais afasta o homem da verdade, da verdade sobre si mesmo, da verdade sobre sua própria conjuntura e da realidade acerca da moralidade e dos valores dos quais nos são necessários e preciosos. Somente a verdade liberta. Nas palavras da própria protagonista, “Você não pode ter tudo. Você só tem a verdade. E a verdade basta. A verdade é linda”.
Segundo Giovanni Reale, “Os melhores homens são aqueles que mais viram e contemplaram a verdade. A vida moral depende estruturalmente da contemplação”. Tenhamos sempre em mente que a realização plena da vida humana vai além dos desejos efêmeros. Nas palavras de Schopenhauer, “Sentimos que toda a satisfação de nossos desejos advinda do mundo se assemelha à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome”. Desapego e renúncia são virtudes necessárias para a contemplação da verdade.