A mentira é uma das maiores pragas desta era da humanidade. Tão devastadora de reputação e tão danosa ao espírito do tempo quanto esse vírus que realiza um morticínio pelos quadrantes do planeta. Pior é constatar que, enquanto a ciência avança, a tecnologia e a inteligência artificial descobrem trilhas do progresso biológico, contribuindo para o aumento da vida útil dos seres humanos, mas a mentira e suas variantes – versões farsescas, abordagens estapafúrdias, visões apocalípticas – ganham volume nas narrativas absurdas lideradas por oportunistas nas redes tecnológicas. Tristes tempos.
É bem verdade que a mentira sempre se fez presente nas dobras da história, frequentando principalmente os campos da política e dos negócios. Registram-se perfis vestidos com o manto da mentira por praticamente todos os momentos, que dela se serviram para vencer adversários, subornar, aumentar poder, derrotar os bastiões da ética e da moral.
Sócrates pregava: “só age erradamente quem desconhece a verdade e, por extensão, o bem”. O fato é que o Império da Maldade tem sido construído ao longo do tempo.
Exemplos? Maquiavel, cardeal Mazarino, Alexandre VI, conhecido como Rodrigo Bórgia, o 214º papa da Igreja Católica (que vendia indulgências), Hitler, um genocida, Mussolini, arrogante e vaidoso, e por aí vai.
A moldura que enquadra a mentira é entronizada no saguão dos Palácios e nas antecâmeras do poder, encoberta por nomes de assessores, ajudantes, auxiliares, enfim, integrantes de “gabinetes de ódio” e similares. Notícias falsas, designadas de fake news, enganam cada vez mais pessoas que não se prestam ao trabalho de checar a veracidade e a confiabilidade da fonte que divulga as informações. Até a vacinação contra a Covid-19 é rejeitada por milhares, que passam a comungar pelas mãos de mentirosos, falsos profetas, incluindo governantes daqui e d’alhures.
As redes sociais transformam-se em iluminadas vitrines do ego, divulgando falsa propaganda de vidas felizes, trocando vitupérios, ignorando os danos que sua existência acarreta à humanidade. A ignorância, em nossos tempos, é cultivada e celebrada.
Nesse ponto, pinço a alegoria da caverna, de Platão, para argumentar que o ser humano tem regredido constantemente, a ponto de viver como um prisioneiro da caverna, apesar de toda a informação e todo o conhecimento que temos à nossa disposição. A preguiça intelectual tem sido uma das fortes características de nosso tempo. A política, a sociedade e a vida comum deixam de ser interessantes para os cidadãos, como se sua existência tivesse maior importância que a defesa da sociedade. Buda já dizia: “O conflito não é entre o bem e o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância”.
Um sinal de esperança pontua no horizonte. O discurso de posse do democrata Joe Biden foi auspicioso, ao se comprometer com o resgate da verdade. Acentuou ele: “As semanas recentes e os meses recentes nos ensinaram uma lição dolorosa. Existe a verdade e há as mentiras".
Esperemos que, nos tempos que virão, a verdade seja o lume de nossas consciências. E que os nossos governantes saiam da redoma ilusória em que se refugiaram e caiam na realidade. Joguem no lixo da história, mandatários, o véu mistificador com que engabelam as massas.