Se tem um prato que sinto falta nesses dias de intenso calor é de uma bela sopa (não sou apreciador dos caldos gelados). Sopa de feijão. Sopa de abóbora. A de macarrão com letrinhas. Sopa de ervilhas. Caldo verde com batatas. Vaca atolada (que delícia!). Quem nunca comeu a “sopa de sopa”, com as sobras de tudo que tem na geladeira? Talvez não exista nada mais prático na cozinha.
As sopas sempre são lembradas para a solução de todos os males. Está resfriado? Toma um caldo de galinha. Precisa reforçar as proteínas? Que tal um ministrone. Para aumentar a imunidade? Sopa de inhame com espinafre. Dizem até que o caldo de arroz é ótimo para prender o intestino!
Eu acho que foi a minha intimidade com as sopas que me despertou o interesse pela Química, especialmente o que hoje se chama de “Bioquímica”. Explico melhor.
Nunca vou esquecer de uma aula de Química do Ensino Médio sobre a chamada “sopa primordial”. O meu professor estava preocupado em introduzir a Química orgânica e apresentou para a nossa turma o fantástico experimento de Stanley Miller (1930 – 2007). Ele era estudante de Química da Universidade da Califórnia quando se discutia amplamente a importância dos aminoácidos para a manutenção da vida e os mecanismos de sua reprodução no interior das células por intermédio das proteínas. A grande questão que inquietava os cientistas era o fato de que, na origem da vida, os aminoácidos deveriam ter sido produzidos por processos abióticos (inorgânicos).
Stanley foi aluno de Harold Urey, que possuía estudos para supor que a atmosfera primitiva da Terra era basicamente formada por amônia (NH3), metano (CH4) e Hidrogênio (H2). Impressionado com essas suposições, Miller montou seu famoso experimento em 1953. Colocou esses elementos da Terra primitiva em um balão de vidro que recebia descargas elétricas (simulando os relâmpagos das tempestades). Manteve o sistema aquecido, reproduzindo as altas temperaturas, ao mesmo tempo que um condensador liberava gotículas de água, representando as chuvas. Após uma semana, a água do reservatório continha aminoácidos, substâncias simples que podem ter sido o marco inicial da vida na Terra!
Esse experimento espetacular, que ficou batizado de “sopa primordial”, abriu horizontes novos para o entendimento da origem da vida...Se eu tivesse ido mais longe nas aulas de Química orgânica, talvez a minha vida profissional tomasse outros rumos. As sopas continuei apreciando na cozinha. Me interessei cada vez mais pela Biologia e História. Fui estudar Geografia.