A Sociedade do Cansaço

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 03/10/2023
Horário 06:07

Hoje a crônica é um teste social e para isso, peço que leia os itens A, B e C atentamente para descobrir ao final algo muito importante:

A - Em sua casa, a família é toda conectada, mas emocionalmente muito distante. Ou seja, apesar de todos os membros estarem sob o mesmo teto, cada um está imerso em seus dispositivos digitais e pouco se falam;

B - Em seu trabalho há um verdadeiro “Culto à Produtividade”, em que todos são diretamente pressionados a entregar mais em menos tempo, levando a longas horas de trabalho e à sensação constante de impotência e incapacidade. Fora que não é mais legal ir embora na hora certa ou vai parecer que você entrega pouco, tem que participar de todas as reuniões mesmo que isso tire seu tempo útil, além de mostrar-se sempre proativo com o serviço de alguém que não fez a obrigação;

C – Você tem muitos amigos, não é cara antissocial, mas a tentativa de encaixar encontros e atividades em um calendário cada vez mais apertado, o leva a um sentimento de obrigação em vez de prazer. E daí que não dá nem para encontrar com alguém conhecido sem lançar ou esperar com medo a velha frase: “Vamos marcar alguma coisa?. Você sabe que não irá rolar, você não quer, mas ficou uma dívida no ar.

Bem, se a sua vida se encaixa nos três itens acima, seja muito bem-vindo à Sociedade do Cansaço, um termo não muito novo, mas que a cada dia ganha contornos reais na rotina de cada um de nós. 
A Sociedade do Cansaço é quase uma doença da alma e da mente, que teve o primeiro conceito definido por Byung-Chul Han em um livro de mesmo nome, “Sociedade do Cansaço”, publicado pela editora Vozes em 2015. Em outras palavras, o que o autor apresenta é que nossa canseira não é bem física, mas essencialmente existencial.
E o que piora muito nossa existência nesta sociedade é a carga de positividade e meritocracia que ela própria carrega como condição de uma vida bem-sucedida. Tem que sorrir sempre! Tem que acreditar sempre! Tem que sonhar sempre! Tem que competir sempre! São as armadilhas que nos colocam bem ao centro da Sociedade do Cansaço.
E tudo isso termina nas redes sociais, em que cada foto ou vídeo equivale a uma narrativa mascarada da vida, que esconde na verdade ansiedades e inseguranças.
Na Sociedade do Cansaço, temos nos tornado reféns de nossa própria necessidade de autopromoção, da glorificação dos atos medíocres de nossa vida besta, como quando fotografamos um prato de comida e postamos, ou quando nos exibimos em corpos ainda mais duvidosos nas academias ou em áreas de lazer.
Onde vamos parar não sei, mas onde chegamos está certo e queiramos nós que o que nos trouxe até aqui não seja o irá nos levar para frente.

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