Na atual campanha eleitoral, a presença do discurso e dos sacerdotes da religião é muito grande, diria até exacerbada. A Igreja Católica (Apostólica Romana) não permite aos seus sacerdotes filiarem-se a partidos políticos nem fazerem campanhas explícitas para quaisquer candidatos, pois no seio da comunidade há vasta pluralidade de opiniões e posições políticas. O lugar da política partidária é próprio dos fiéis leigos. Aos sacerdotes cabe orientar a partir da doutrina quais princípios observar na hora do voto.
Parece-me óbvio que um padre católico seja contrário ao aborto e que as eleições não são para a escolha de um santo nem do papa, mas de um representante do povo que estará à frente da liderança e do governo do país buscando a justiça social e promovendo o bem comum, dando especial atenção aos pobres. Entretanto, a conversa da campanha descambou para pautas que não determinarão a saúde ou a educação ou a moradia ou o emprego ou a segurança ou o direito de TODOS serem cuidados. Infelizmente.
Meu papel não é dizer vote nesse ou vote naquele candidato. Minha liderança é para ajudar as pessoas no seu caminho de fé, segundo a inspiração do Evangelho de Jesus Cristo – que não é ideologia nem bandeira partidária. Também devo auxiliar as pessoas a terem um pensamento crítico em relação ao seu entorno, considerando os princípios democráticos que regem a vida social republicana. Como estou no mundo, pisando o mesmo chão que as pessoas, isso nem sempre é fácil. Algumas ações visam ao despertar emocional de medo e ressentimento. Há muitas mentiras circulando e muita gente gostando, pois assim reforçam sua própria crença. Neste momento, há bem pouco de racional.
Temos longo caminho a percorrer. Nossa forma de organização social passa por intenso teste. Espero que ela resista. Haverá dia 31 de outubro. Espero que a igreja esteja de portas abertas a todos (de direita, de centro, de esquerda, de tudo, de nada) e que o ar seja respirável. Espero que as famílias e os círculos sociais e fraternos também resistam ao próximo dia 30. É preciso cuidado para o país não entrar numa onda de violência sanguinária. Afinal, apesar de grande parcela se declarar ateia, somos ou não um país cristão? E o Evangelho aponta caminhos de convivência pacífica e de amor até para os inimigos. Respeito e caridade não fazem mal, antes, fazem muito bem. E o Senhor quer a vida para todos, não somente para os do meu partido-candidato preferido.
Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!
“Onde há fanatismo, perdeu-se a lucidez. Onde há polarização extrema, perdeu-se a lucidez.” (D. Odilo Pedro Scherer, cardeal)