A psicoterapia pode ser muito útil para os idosos

Muitas vezes, aqueles que entram em contato com pessoas idosas, como: filhos, médicos da família, netos, cuidadores, etc., por exemplo, tendem a considerar, angústias, inibições, isolamento, choros, tristezas sem causa aparente, como efeitos do envelhecimento. Será que quando chega o envelhecimento, os investimentos voltados para si próprio não valem mais a pena? Nós, profissionais da saúde mental, voltados ao bem-estar psíquico, ambiental e social, estamos sendo visitados pelos idosos com muito mais frequência. 
Quando pessoas idosas deprimidas fazem psicoterapia ou análise, observamos que seu estado de alerta intelectual é reavivado, que sua tendência a sofrer acidentes diminui ou que certos distúrbios somáticos começam a diminuir. A cura pela fala (talking cure), já alertava Freud (1893), é um tratamento - para todas as faixas etárias - em que o fato de se verbalizar o sofrimento, de encontrar palavras para expressá-lo, permite, senão curá-lo, ao menos tomar consciência de sua origem e, portanto, assumi-lo. 
Deixar o paciente divagar sobre suas ideias, memórias e sonhos, criando significados e aprendendo a conviver com o passado e olhar para o futuro, é fundamental e alivia as angústias. O psicanalista tem como fundamento e embasamento o método e a técnica, e assim, sua escuta e visão binocular são especializadas. O idoso desvitalizado deixa de sonhar, pensa que incomoda o outro, que já foi o seu tempo e segue isolando-se. O funcionamento mental de uma pessoa idosa, no ponto de vista psicanalítico, é o mesmo de qualquer pessoa e faixa etária. São as mesmas referências básicas com relação ao inconsciente, à transferência, ao complexo de Édipo, à compulsão, à repetição, aos mecanismos de defesa etc., eles apresentam dificuldades com os processos de luto e a busca de um senso de si mesmo. 
Observo que muitos, com dificuldade, falam de culpas em um passado longínquo. O tratamento psicanalítico reduz a necessidade, com o passar do tempo, de cuidados físicos (não precisam ser hospitalizados com tanta frequência), aumento de sua autonomia. E eles passam a cuidar melhor de suas próprias necessidades materiais, até viajar e ter uma vida social melhor. Sabemos que autonomia não é independência. Quem de nós somos totalmente independentes? Todos nós dependemos uns dos outros: dependemos não apenas de outras pessoas, mas também de todos os tipos de hábitos, máquinas, condições de vida, etc. 
Seria irrealista imaginar que podemos nos tornar independentes totalmente. Não podemos ser independentes sem antes estarmos cientes de nossa dependência. O sofrimento psíquico não tem idade. Goethe, o grande filósofo, na história do Doutor Fausto, nos ensina que “o mais feliz dos homens é aquele que consegue ligar o fim de sua vida ao início”. Uma criança feliz poderá implicar em uma adolescência melhor, em um adulto maduro e um ancião feliz em poder chegar à fase idosa feliz. A gratidão é um sinal de felicidade.

Publicidade

Veja também