Em 7/10/1917, nasce uma menina na pequena cidade de Fartura, no Estado de São Paulo. Seus pais colocam o nome de Geny, que significa bem nascida, aquela que tem origem nobre, branca como a espuma do mar, agraciada por Deus. Geny nasceu para educar. O pensamento do filósofo Pitágoras definiu a missão da sua vida: "Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos".
Se formou como professora de português na cidade de Botucatu (SP), como a melhor aluna do curso e iniciou sua carreira na escola da Fazenda São Bartolomeu, na região de Piraju (SP). Morava na casa de um colono que nem banheiro tinha, o único luxo era o ar puro do campo. Casou-se com Manuel Caetano Figueiredo e tiveram três filhas e um filho: Maria Inês, Maria Helena, Maria Lúcia e Manuel Caetano, cujo apelido era Nelito (in memoriam).
Chegou à nossa aldeia sagrada em 1962. Morou sua vida inteira no charmoso Bairro do Bosque, na Rua Ulisses Ramos de Castro, 86. Tive a felicidade na minha juventude de frequentar sua casa, o Nelito era meu amigo irmão. Dona Geny sempre me viu como seu irmão mais velho. Perdeu seu marido precocemente. Sua retidão, seu caráter, sua forte personalidade entraram em cena. Nunca mostrou para seus filhos qualquer sinal de desânimo e muito menos de fraqueza. Não permitiu que sua motivação fosse a falência, seu ânimo era contagiante, natural, amava a vida, amava ensinar. Nunca teve um problema de indisciplina. Uma educadora sensível e dedicada.
Lecionou em várias escolas da região de Presidente Prudente, se locomovendo em charretes. Tábuas viravam mesas e tijolos empilhados eram utilizados como banco. Nada desanimava essa pequena grande mulher. Me lembro quando entrava na sua casa ela estava sentada ao redor de uma grande mesa e de frente para uma lousa, exercendo com prazer a nobre arte de ensinar. Eram aulas de reforço, não cobrava por essas aulas. Não se prendeu a sua formação como professora de português, ensinava também geografia, história, música e adorava poesia, era uma leitora voraz e incentivava seus alunos a lerem jornais.
Os pais queriam que seus filhos estudassem com dona Geny. Um dia ela estava num restaurante e um médico foi cumprimentá-la, a abraçou com muito carinho e emocionado agradeceu a sua professora inesquecível que lhe ensinou os primeiros passos para o conhecimento da vida. Inúmeras manifestações de carinho ela recebeu ao longo da sua vida. Dona Geny Navarro Figueiredo recebeu o Prêmio Heitor Graça, a mais significativa honraria que o jornal O Imparcial concedia a personalidades relevantes da nossa cidade e região.
Seus alunos começaram a ver e a entender o mundo nas suas aulas, tratava-os como seus filhos. Sua simpatia era encantadora e sua filha Maria Inês me contou uma passagem que retrata bem a sua mãe: O pai de um aluno tinha uma marcenaria no Bairro do Bosque, de nome Dobaschi. A diretora do I.E. Fernando Costa era dona Luiza Rodrigues e seu Dobaschi veio até a diretora pedir para que seu filho estudasse com a professora Geny.
Dona Luiza, educadamente, disse que era impossível porque a classe, com mais de 48 alunos, estava cheia, não tinha mais carteira. Seu Dobaschi continuou insistindo, mas realmente não teve jeito. Passado alguns dias, ele aparece no Colégio I.E Fernando Costa, com a carteira para seu filho estudar com a professora Geny. Diante desse nobre gesto, dona Luiza permitiu e atendeu seu desejo.
Dona Geny, os milhares de seus alunos agradecem em oração seus 58 anos dedicados à educação. Serás sempre a professora inesquecível. Enquanto caminhas pela estrada da eternidade, vamos recitar os últimos versos da poesia: a Rua das Rimas de Guilherme de Almeida, o Príncipe dos Poetas, que a senhora ensinava e gostava tanto:
"A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha um mal me quer uma mulher que bem me quer;
é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calçadas nuas,
correndo paralelamente,
como a sorte, diferente de toda a gente, para a frente
para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito, bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade, liberdade, tranquilidade: rua da felicidade…"