Como você comunica com o seu próximo? Já parou um pouco para refletir? Na clínica nos confrontamos, frequentemente, com coisas difíceis de serem traduzidas, apreendidas, representadas, uma vez que o discurso do analisando recorre às matérias diversas para se expressar: representação-palavra, representação-coisa, afeto, ato que parecem, por vezes, como coisas sem forma e impossíveis de serem ditas.
No atendimento com as crianças, as comunicações são em formas do brincar. Em ludoterapia, comunicam seus conflitos inconscientes brincando, pintando ou desenhando. Freud, pai da psicanálise, através de sua prática clínica, por meio da palavra, a famosa cura pela fala (talking cure), realizava as suas interpretações. Observamos que há transtornos desencadeados pela impossibilidade e limitações na fala, linguagem e comunicações.
Muitas vezes, psiquicamente saturados de angústias, não encontramos nenhuma via para dar vazão ao que estamos sentindo. Expressamos pelo grito, violência, agressão física ou desastre de qualquer ordem, atuamos. Vamos sonhar um pouco com as palavras de Clarice. Clarice Lispector diz assim: “E a coisa se fez de um modo tão impossível – que na impossibilidade estava a dura garra da beleza. São momentos que não se narram, acontecem entre trens que passam ou no ar que desperta nosso rosto e nos dá o nosso final tamanho, e então por um instante somos a quarta dimensão do que existe, são momentos que não contam” (“A maçã no escuro”, 1961).
E ainda em Clarice, “A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la – e não acho. Mas é do buscar e não do achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente, reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso da minha linguagem. Só quando falha a construção é que obtenho o que ela conseguiu” (“A paixão”, de G.H.,1964).
O psicanalista e escritor, Bion, nos deixa uma celebre afirmação: “O vazio é a potência da forma”. Podemos constatar que o caráter da palavra muitas vezes é corruptível e profano. O poeta sonha com comunicar pensamentos sem recorrer a palavras. Vejam como a palavra tem sua importância! Há o silêncio que fala. Silêncio não é ausência de ruídos, tem significado e sentido. Você “escuta “ou “vê” o silêncio do seu próximo? Você é “escutada” ou “vista” em seu silêncio? Você pede para o seu filho “engolir” o choro? Há momentos em que não há palavras para expressar o que sentimos, ainda não foi inventada ou criada. Certa vez, tive uma experiência inusitada, nova e surpreendente, a reação foi tão forte, procuro, ainda não encontrei a palavra para defini-lo.