Nasce e começa a ganhar volume no Brasil a nova direita, uma das estacas que compõem o bloco bolsonarista. O que vem a ser essa tendência, que perfis a integram e qual é a possibilidade de esse grupamento vir a se transformar em força decisiva no arco partidário nacional? Para começo de conversa, essa nova direita não escolheu o país como seu principal habitat. Designa um partido criado em 1918 em Israel, expande-se na Europa e finca raízes no seio da maior democracia ocidental, os Estados Unidos, e na América Latina, sob uma imensa teia de fenômenos, como o autoritarismo, o nacionalismo, o conservadorismo, o populismo e a xenofobia, principais eixos de sua identidade.
A nova direita, por aqui, é bem diferente da direita clássica que esteve por trás do golpe militar de 64. Não é uma direita comprometida com golpes, viradas bruscas de mesa, reimplante de ditadura militar. Pode até reunir uma ala que ainda pensa nisso, mas a nova direita elege o conservadorismo como seu obelisco, a par de traços de populismo e autoritarismo, que podem ser adotados tanto por um ex-integrante das Forças Armadas – Jair Bolsonaro – como por um civil identificado com essas tendências. Portanto, o importante é o Que, não o Quem.
No Brasil, constata-se um estado geral de insatisfação que nasce no topo da pirâmide social e se desdobra até as margens. Mas essas continuam a eleger seus governantes por meio da equação custo/benefício. No meio, há contingentes que agem sob o império da mudança: “não aguentamos mais, não suportamos essa carga de impostos, serviços precários, corrupção deslavada, dinheiro para alguns, escassez para outros”.
Os micros e pequenos produtores correm para a nova direita; comércio e prestadores de serviços, também. Oprimidos por tributos e burocracia, a eles se juntam. Representantes da velha direita encontram no capitão uma janela para vocalizar anseios. Poucos defendem um regime militar. Mas a maior fatia desse núcleo se volta para a defesa da ordem, da disciplina, do direito de propriedade, contra a baderna e a devastação.
Por aí se estende o território da nova direita. No fundo, um posicionamento contra o “status quo”. Terá sucesso? A depender das circunstâncias, que colocam na vanguarda das preocupações a alavancagem da economia, a melhoria dos serviços públicos e a atenuação da violência na sociedade. Oportuno dizer que a índole brasileira tende a se afastar dos extremos e se guiar pela bússola da conciliação, da harmonia, da paz social. Por conseguinte, a vontade de fazer uma jornada em direção ao meio se apresenta como a melhor solução. Não somos um país com tanta beligerância como temos visto ultimamente.
Portanto, o amanhã será aberto com um sol brilhante ou sob nuvens plúmbeas. A escuridão abrigará a continuidade da polarização e dos extremos do arco ideológico. A claridade revitalizará nossa democracia e trará os ventos do bom senso. Para fechar, a angústia trazida pela pandemia precisa ser aliviada. Isso vai ter efeito nas urnas de 15 de novembro.