Dirigentes profissionais fazem toda a diferença numa organização familiar. Se há algo difícil de ser superado é a má influência na direção de empresas dos chamados “filhos do dono”. Há exceções, claro. A Bandeirantes viveu sua grande fase de crescimento pela capacidade de seus dirigentes profissionais. Murilo Pereira Leite, o superintendente, Edson Pereira Leite (não eram parentes) diretor comercial e Alberto Saad, o financeiro e que também não tinha nenhum parentesco com João Jorge Saad, o dono, genro de Ademar de Barros e de quem herdou o futuro império. Até hoje a Bandeirantes ainda usa esquemas bolados pela cabeça privilegiada de Edson Leite, um gênio, não apenas um grande narrador esportivo. Mas, Murilo Leite era também um cérebro e foi dele a ideia de organizar um jogo de uma seleção paulista e uma carioca para enfrentar um combinado internacional, os paulistas em São Paulo e os cariocas, no Rio. Isso aconteceu em 1976 e como eu estava na Europa entre uma prova e outra de Fórmula 1 incumbiu-me de aliciar os jogadores. O grande nome como atrativo luminoso para o evento seria Johan Cruyff que jogava na Espanha, onde exatamente eu estava. Fui procurar Cruyff no Barcelona e tive do mesmo a melhor das recepções. Cruyff foi um menino humilde, criado pela mãe que trabalhava como operária nas dependências do estádio do Ajax de Amsterdã. Era ela quem cuidava dos uniformes dos atletas e naquele meio cresceu Cruyff ajudando aqui e ali. Talvez venha daí o seu gosto entranhado por faturar sempre mais, não fosse ele, além disso, um legítimo circuncidado. O certo é que saímos em seu Citroen preto pelas ruas de Barcelona e fomos localizar Neskeens, que acabou não vindo e outros astros. Por 2 dias rodamos falando sobre futebol. Cruyff jurou-me que a Laranja Mecânica nascera do nada. Que em 1974 o técnico Rinus Michels deu-lhes liberdade total para fazerem em campo o que julgassem necessário. E foi dali que o lateral direito Suurbier de repente estava na ponta esquerda, Krol, o central e capitão vinha finalizar enquanto Resenbrink, centroavante, estava em sua área defendendo e Cruyff, partindo sempre da lateral esquerda aparecia em todos os lados do campo. Não estou inventando, foi ele quem me contou jurando que era verdade diante de minhas dúvidas. O mundo tentou copiar o esquema e ninguém o conseguiu. O Barcelona tentou depois com ele mesmo Cruyff no comando e também jamais o repetiu. Sempre digo que a última grande invenção de um técnico de futebol foi quando o inglês Herbert Chapman introduziu o WM em 1930. Daí para cá só tivemos variantes do mesmo.