Prezado leitor, alguma vez você ou algum conhecido teve um problema de saúde e foi encaminhado para vários profissionais, onde cada um fez uma intervenção ou deu uma orientação que às vezes até fosse na contramão do outro?
Imagine que você procura atendimento por causa de uma dor de cabeça e é encaminhado ao neurologista, o qual identifica várias possibilidades e gera encaminhamento para equipe multiprofissional (dentista, enfermeiro, fisioterapeuta, ortopedista, psiquiatra, nutricionista e psicólogo).
Depois de uma jornada de atendimentos, agora você dorme melhor porque está medicado. Respira melhor porque usa “máscara para ronco”. Não tem dor na mandíbula porque usa “placa de mordida”. E a psicoterapia está até ajudando. Mas pelo fato de os profissionais não terem discutido entre eles, cada qual gerou condutas individuais atacando os sintomas, e não as causas. Então você continua trabalhando em excesso, tomando muito café para manter o foco; não encontra tempo/motivação para atividade física; o relacionamento afetivo está em segundo plano...
A sociedade merece conhecer os detalhes para cobrar dos governantes o direito do cuidado integral e de ser escutado com qualidade
É uma situação comum, infelizmente! Mas com a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), foram estabelecidas Diretrizes Curriculares Nacionais orientando a formação do profissional de saúde generalista, humanista, crítico, reflexivo e criativo. E entre os três pilares do SUS, está a integralidade, que traz como um dos aspectos a consulta ampliada e a necessidade da interlocução entre os profissionais de saúde.
Na consulta ampliada, o principal é a escuta qualificada e uma investigação clínica detalhada. Havendo encaminhamentos, para que o cuidado seja efetivo é necessária uma discussão entre os profissionais, um planejamento coletivo e a participação do sujeito/paciente/família nas decisões do que será feito. É preciso escutar o paciente! Na formação atual, o profissional precisa sair com este olhar e o serviço precisa dar continuidade nesta formação.
A sociedade merece conhecer os detalhes para cobrar dos governantes o direito do cuidado integral e de ser escutado com qualidade. Muitas faculdades no país, em parceria com secretarias de Saúde, despendem grandes esforços para transformar este “ideal” em realidade.