A imprescindibilidade dos heróis na construção da imaginação moral

OPINIÃO - Leonardo Delatorre Leite

Data 12/06/2021
Horário 05:00

“Todos os homens podem ser criminosos, se tentados; todos os homens podem ser heróis, se inspirados”, dizia o escritor inglês G.K. Chesterton. Dessa forma, o autor, em questão, procura frisar a eminência de bons exemplos e modelos na construção de uma espécie de imaginação moral, pois boas referências inspiram as mais nobres virtudes. Nesse sentido, em meio aos problemas e adversidades desgastantes da contemporaneidade, os diversos exemplos de heróis, sejam eles pessoas reais ou personagens, os quais lutaram pelo bem e pela verdade, servem como sustentáculo de uma ética das virtudes, ensinando, assim, a imprescindibilidade da manutenção de uma firmeza moral. 
Sob o mesmo ponto de vista, o escritor norte-americano Joseph Campbell frisava a centralidade dos mitos e das histórias fantásticas no exercício de uma função pedagógica, a qual contribuiria na construção dos valores de uma sociedade. Analogamente, as aventuras dos heróis podem e devem ser enquadradas no mesmo cenário e nas mesmas atribuições dos mitos. Diante do exposto, o estudioso supramencionado era categórico na afirmação segundo a qual a linguagem simbólica, presente nessa modalidade de estória, é mais útil nos ensinamentos morais do que a famigerada racionalidade dos pensamentos sutis da filosofia. 
Além disso, os modelos de heróis são extremamente necessários, sobretudo, em tempos de desânimo e fatalismos diante de uma conjuntura funesta e amedrontadora. Por certo, os heróis ensinam que é possível a perseverança na instabilidade e, sobretudo, transmitem a certeza de que a esperança é real. Vale mencionar, também, um pensamento encorajador, o qual foi apresentado no filme “Homem aranha 2” pela personagem Tia May:
“Todo mundo precisa de um herói, pessoas que se sacrificam pelo próximo, dando um bom exemplo para nós. Todo mundo adora um herói, as pessoas fazem filas para vê-los, para gritar seus nomes e daqui uns anos, eles contarão como ficaram na chuva durante horas, só para ver de relance aquele que ensinou a continuar acreditando. Acredito que há um herói dentro de todos nós... Que nos mantém íntegros, que nos dá força, nos enobrece e, por fim, nos deixa morrer com dignidade. Mesmo que, às vezes, seja preciso ser firme e desistir daquilo que mais queremos, até dos nossos sonhos”.
Destarte, bons modelos de heróis apresentam uma função pedagógica imprescindível na vida social. “Aquele que não admira o melhor, não pode melhorar. Os que não sabem admirar não têm futuro” (José Ingenieros). Ademais, as estórias que frisam o companheirismo e a amizade na luta contra as forças do mal são mais necessárias do que as narrativas que ressaltam tão somente a jornada individual de um personagem. Nesse sentido, heróis que buscam na humildade e na magnanimidade as forças para a perseverança devem ser reiterados no processo educacional de uma sociedade, pois favorecem os princípios de coletividade e de união em prol do bem comum.
Em virtude dos fatos mencionados, percebe-se a utilidade dos modelos de heróis na fundamentação de uma imaginação moral, cuja essência é a própria realidade axiológica de uma comunidade. A maneira como os modelos e referências de personagens fantásticos e reais são retratados na literatura e nos filmes refletem os anseios da cultura de um povo. Por fim, é necessária a adequação das condutas individuais com os bons exemplos, pois tal prática demonstra a preocupação no aperfeiçoamento moral. Diante do exposto, São Tomás de Aquino, um dos maiores filósofos medievais frisava: “Sempre siga os exemplos dos santos e dos bons”.

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