Ruelinha é uma pessoa que você conhece bem.
Pode ser eu mesmo ou você ou os outros.
Fato é que não tem muito tempo, Ruelinha decidiu que iria fazer um pacto com ele próprio: o pacto da mediocridade. E fez isso considerando os seguintes itens:
Dependência digital
Ruelinha se considera uma pessoa conectada e está o tempo todo ligado ao celular. Olha a tela a cada dez segundos para não perder nada, mas na verdade só faz isso porque não consegue encontrar graça em nada que faz ou com quem está e porque está viciado mesmo. E também, porque no mundo digital é assim mesmo, né?;
É o cara!
Ruelinha já conseguiu um bom trabalho e depois de um tempo decidiu que tudo aquilo só funcionava por conta da sua competência. Pronto! Ir para o trabalho era motivo para ter que ensinar o básico a tudo e a todos e até passou a ser um saco. Tudo que os amigos falavam era pouco ou ele já sabia tudo daquilo. O problema agora é ter que esperar longos anos apenas para conseguir ser o dono do lugar e depois se aposentar;
Faz tudo
Ruelinha faz tanta coisa no dia dele que se esqueceu que é apenas um pessoa normal. E como pessoa normal tinha apenas uma missão: viver.
Mas Ruelinha decidiu que tudo era mais importante do que viver. Aliás, ele nem terminou de ler isso aqui porque tinha que escrever um post, editar um vídeo, fazer um relatório e ainda postar stories dizendo o quanto é bom, que está trabalhando em 37 jobs ao mesmo tempo e que a vida está corrida;
O mundo está errado
Ruelinha tem certeza de que seu mundo não é este, afinal tudo está errado: o dia começa sempre ruim; a sala de trabalho está sempre está quente ou está fria; os amigos são quase todos uns chatos; a roupa nunca está boa; o chefe é mais Zé Ruela que ele; as atividades são coisas feitas apenas para perder tempo. Afff, na verdade, para Ruelinha tudo é um s@co;
Iludido
Ruelinha é um bom profissional. Aliás, é bem inteligente, mas o problema está aí. Um dia, ganhou muitos elogios de vários colegas e chefes e realmente começou a acreditar que estava acima da média, não só acima dos amigos de trabalho, mas até de alguns mais experientes. “Droga, vou ter que ouvir este cara falar até que horas? Se fosse eu faria diferente. Ele não sabe nada”. Ruelinha realmente tem um problema com isso;
É uma vítima
Quando acorda, Ruelinha já tem um pensamento: “o que será que o universo vai fazer hoje para me prejudicar?” Afff.
Ruelinha bateu o dedinho do pé na cama; perdeu o ônibus e teve que esperar; ficou sem crédito; lembrou que hoje tem “nervo ao molho” no marmitex; não conseguiu entregar o relatório porque o dia só tem 24 horas (onde já se viu!); teve que ouvir um monte de bronca de quem nem é seu pai; pisou no cocô do gato; está muito calor; não chove só para ele; está calor só para ele; só a calça dele está apertada... Afff, é dificil viver assim, hein?
Ama uma desculpinha
Ruelinha tem alguns problemas sérios. Aliás, alguns bem reais, diagnosticados, tipo transtorno, síndrome, falta de grana, família quebrada e até de autoestima, mas Ruelinha decidiu que ao contrário de superar qualquer condição ruim, ele vai usá-la sempre como desculpa para não fazer nada. “Eh, por que não pensei nisso antes? É só ficar revoltadinho que ninguém me enche o saco! Sou um gênio!”
É, Ruelinha realmente é um gênio!
É Narciso
Pois é, Ruelinha ama a música do Caetano que diz que “Narciso acha feio o que não é espelho” porque na verdade, nunca é sobre ele e sempre é sobre os outros.
Aliás, Ruelinha leu tudo isso e não se encaixou em nada porque o problema são os outros. Sempre os outros e Ruelinha definitivamente não é igual “os outros”.
Pronto, assim é que é melhor!
E este é o fim da história do Ruelinha.