A Evolução do Nelore Mocho

Benjamin Resende

COLUNA - Benjamin Resende

Data 30/11/2020
Horário 07:12
Fazenda Rozas - criação de bezerros Nelore
Fazenda Rozas - criação de bezerros Nelore

Hoje, a marca GR percorre fazendas e domina plantéis por esse Brasil de imensas invernadas e outros países vizinhos de rebanhos selecionados. Antes, porém, de se chegar a essa marca, a história surgiu lá nos cafundós de Gramogol, no rincão mineiro, terra dos Ribeiros. Ali viviam eles da lavoura e de um gadinho crioulo. Geraldo Ribeiro queria espaço. Em 1949, com a fé no coração e o sonho no horizonte, com a cara e a coragem, migrou para São Paulo, precisamente, Martinópolis, na Alta Sorocabana. De boia-fria a retireiro, de domador de burros a comprador de garrotes, foi um percurso longo e sofrido. Na década de cinquenta, foi a pertinácia que o dominou, ao lado de seu irmão Joaquim. Comprava um boi aqui, uma vaca ali e um bezerro acolá. O touro “Buriti” foi o primeiro de uma sequência de boas compras de bois, marruás e marrucos. Na fazenda “São José”, de Leão Cavalcanti, adquiriu o touro “Rex”, bravo e pegador, mas ótimo reprodutor. Nasceu dele o bezerro “Elefante”, que se tornou um grande reprodutor, conseguindo, dessa forma, fazer a cabeceira do seu gado. Foi, aos poucos, ganhando dinheiro com o apuro da raça nelore. Descendente desses touros, apareceu o “Rolex”, boi perigoso, forte, sangue esquentado, que, com mais de ano, sem se conseguir amansá-lo, o leiloeiro Brasiliano o vendeu, como o melhor touro da exposição. Foi o ponto de partida. Iniciava-se a dedicação total à raça nelore. O lema era aperfeiçoar. Era selecionar seus bezerros. Procurava, de fazenda em fazenda, por toda a Alta Sorocabana, touros dos bons, para comprá-los. Ora os vendia, ora os trocava por vinte, trinta e cinquenta cabeças de rezes, formando seu primeiro lote de gado nelore. Todavia, foi na década de sessenta que Geraldo Ribeiro se tornou conhecido como um dos grandes pecuaristas da região. Tornaram-se seus clientes e amigos, entre outros, Jacinto Silveira, Hiroshi Yoshio, Rui Terra, Moacir Miranda, Urbano Medeiros, Domingos Vieira. Foi do plantel deles que trocou, vendeu, adquiriu e alardeou a qualidade de seu gado nelore.

Em 197l, adquiriu de Torres Homem Rodrigues da Cunha noventa e duas matrizes e se consolidou como pequeno criador de gado nelore de primeira qualidade. Em exposições, seus touros, “Guandu”, “Senador”, “Flor da Índia”, “Capitão” e tantos outros arrebataram prêmios. Nova fase se iniciou. Imperou a qualidade. Era a demonstração da pureza de seu gado, a vez e a hora do nelore mocho. Já não é o Geraldinho. É o senhor Geraldo Ribeiro. Não é mais o peão, é o Rei do nelore mocho; nem mais o bóia- fria, é o latifundiário, dono de pastagens, boiadas selecionadas, com a grife “GR”. Como se diz em italiano: denaro fa denaro. O Geraldo se envolveu em negócios de cavalos, formando seu haras “Quarto de Milha”. Sua primeira fazenda, a “São Geraldo”, era motivo de orgulho, posto que produzia e criava, ali, os melhores touros, uma seleção espetacular de nelore mocho. Dessa fazenda, vinham os campeões, que abiscoitavam os primeiros prêmios em toda e qualquer exposição tida e havida pelas cidades desse Brasil rural e pecuário. No Geraldo, entretanto, havia uma qualidade, que era a de servir, de ser solidário. Queria ver a raça nelore mocho espalhada por todas as fazendas. Além de vender seus campeões, era embaixador-conselheiro. Ensinava aos fazendeiros-criadores as primeiras lições de como organizar o seu plantel. Graduavam-se, dia-a-dia, seus conhecimentos especializados. Direcionava, então, sua vida, para dar ao Brasil a grande guinada dos anos oitenta: fazendas especializadas iniciavam o criatório do gado nelore mocho, com marcas próprias e davam seqüência ao trabalho de seleção, provindo de touros antepassados, com verdadeira tradição de raça. Um novo momento ganhava as exposições. O plantel, ali exposto, apoiava-se em matrizes, cobertas ou inseminadas por touros registrados. A marca preponderava e prosperava. O nelore mocho tornava-se campeão. O ato de criação e seleção de gado nelore mocho passava a ser uma permanente busca de raça pura e perfeição expositiva. O criador se tornou expositor. A qualidade do animal, sua pureza e o aperfeiçoamento da raça provam a conquista da marca. Eis o nelore mocho invadindo fronteiras, mas com sua sede na Presidente Prudente, Capital do Nelore.

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