Em um final de tarde, alguém que está sem muitas opções para se divertir, se senta na sala e coloca um disco para tocar, e aprecia as canções, seguindo a letra pelo encarte do LP ou do CD. Essa cena praticamente não existe mais atualmente. O ritual de comprar e escutar uma mídia física musical está sendo esquecido, e cada vez mais os serviços de streaming como Spotify. Deezer e Apple Music dominam o mercado musical.
No primeiro semestre de 2019, nos Estados Unidos da América (maior mercado de música), o faturamento com serviços de streaming subiu 26,4% em comparação com os seis primeiros meses de 2018 e chegou a 4,3 bilhões de dólares, segundo a RIAA (Recording Industry Association of America). A IFPI (International Federation of the Phonographic Industry), estima que o mercado de música digital rende USS 8,9 bilhões anualmente, sendo que destes US$ 207,8 milhões são provenientes do Brasil.
Essa mudança de cenário afeta principalmente as lojas que vendem CDs e LPs. Em Presidente Prudente esses locais trabalham mais em prol de colecionadores. Daqueles que ainda sentem prazer em manter o ritual envolvendo a mídia física.
Como é o caso do acabamentista da construção civil, Gentil Batista da Silva, 62 anos, cliente assíduo da
da Livraria Sebo Prudente. Apesar do esse cenário de evolução tecnológica, ele diz que ainda existem aqueles como ele que mantém a tradição de escavar um tesouro em meio aos LPs ainda disponíveis no Sebo. “Sempre que posso venho procurar algum vinil de artistas únicos, como Roberto Carlos, Antonio Marcos, Fernando Mendes, José Augusto e tantos outros! Talvez pela idade, mas eu nem procuro CDs. Eu gosto de vinil”, pontua Gentil e quando perguntado se ouve músicas por streaming, ele diz: "nem sei o que é isso [risos]", explana o fã de vinis.
HISTÓRIAS VIVAS NA
RIQUEZA DOS VINIS
Cláudio Tateishi, funcionário do Sebo qual Gentil é cliente, declara que as vendas caíram muito, sendo a procura mais de colecionadores de LPs, principalmente de Rock, pois, "os jovens hoje em dia ouvem online mesmo. A loja não está nem mais abastecendo o estoque destes itens [vinil e CD). E pra ser sincero, pensamos parar de comercializar as mídias físicas em um futuro breve, pelo que estamos vendo. Pela pouca procura", enfatiza Cláudio.
A Mystery Rock Store é bastante conhecida na cidade por sua variedade de itens relacionados à música e cultura pop. Mas, não diferente do sebo, De acordo com o proprietário da loja, Eugénio Balan, a vasta coleção de vinis e CDs para venda está ficando cada vez mais parada. "Teve um tempo que parecia que o vinil iria voltar com tudo, mas foi passageiro. Os preços elevados de lançamentos acabam por desmotivar a compra. Eu considero o LP como ‘o documento mais completo da música’! O acho imbatível, mas é obvio que o digital veio para ficar", frisa Eugênio.
A ERA DIGITAL
E A JUVENTUDE
As plataformas de streaming, assim como o site de vídeos YouTube, permitem que uma biblioteca praticamente infinita esteja literalmente no bolso dos usuários. Podendo ser acessada de forma gratuita, ou através de plano para não ter anúncios entre as canções, por dispositivos móveis. Pela praticidade, Lucas Machsata, 18 anos, trocou os CDs pelo YouTube já faz cinco anos. “É muito mais útil para mim".
Isabela Lopes da Silva, 23 anos, que também abandonou as mídias físicas pela tecnologia, dá a mesma justificativa. "O CD quando ouvimos por várias vezes, se não tiver cuidado ele risca todo e não pega mais", destaca Isabela.
E Daniel dos Santos Vieira, 20 anos, acrescenta: "Eu não utilizo aplicativos de streaming, mas ouço músicas apenas pelo YouTube. CDs, não mais",
NÚMEROS
8,9 bi de dólares
É o rendimento anual dos criadores de Streaming como Spotify, Deezer, Apple Music
26,4%
Faturamento dos Estados Unidos com estes serviços em 2019
4,3 bi
Foi o que registrou o maior mercado de música no primeiro semestre
207,8 mi
É o consumo de música digital dos brasileiros indicado pela RIAA
Foto: Oslaine Silva - Aparelhos antigos, assim como os discos de vinil são relíquias de poucos apreciadores
Fotos: Isadora Crivelli
Gentil, que não sai de casa a não ser para o trabalho não abre mão de ouvir seus vinis, todas as tardes ou nos fins de semana
Do Sebo, Cláudio pensa em parar de comercializar as mídias, no futuro