A DURA VIDA DE UM JORNALISTA

Charanga Domingueira

COLUNA - Charanga Domingueira

Data 19/02/2018
Horário 12:13

Nem só de pão vive o homem e nem só de narrar esportes vive o locutor esportivo. Se há algo que muito enriqueceu o conhecimento que guardo da música brasileira foi quando era locutor de estúdio na velha PRI-5 e anunciava aquilo que o rádio tocava. A verdadeira música brasileira que naquela época dominava a programação radiofônica. Por isso mesmo não me senti deslocado quando me escalaram para ajudar o José Paulo de Andrade na cobertura que a tevê Bandeirantes faria de um festival internacional da canção na paradisíaca Palma de Mallorca. Lá estavam os grandes astros da música do planeta, entre eles o paulista Maurício Alberto Kaiserman, que com o pseudônimo de Morris Albert, dois antes ganhara o mesmo concurso com “Feelings”, uma das canções mais gravadas no mundo todo. Por Barbra Streisand e Ella Fitzgerald, entre outros. Pois não é que o patrício ganhou novamente? Com uma belíssima composição de nome “Who”, só que esta não fez o menor sucesso. Sucesso mesmo foi o hotel em que ficamos, eu e minha esposa. Para vocês terem uma idéia o apartamento tinha 2 banheiros, o feminino e o masculino. Na primeira manhã em que ali estávamos o salão de “desajuno” estava superlotado e alguém nos acenou dizendo: “please, I have two seats availeable here” . Agradecemos a gentileza e aceitamos o convite que nos fazia, sabe quem? Ray Conniff, o grande maestro que estava com esposa e filhas e tinha ainda dois lugares vazios em sua mesa. Como ele também falava um razoável espanhol a conversa foi das mais interessantes. No dia seguinte no mesmo café da manhã conversava com minha mulher quando se aproximou um senhor que foi logo dizendo: “ustedes estan hablando português, no és? Adoro português, mi madre es portuguesa.” E foi logo se apresentando: “Paco de Lucia, pá servir-les.” O maior violonista do mundo, o astro da Andaluzia aceitou nosso convite e tomou o seu desjejum conosco falando de seu amor por Portugal e do seu desejo de vir ao Brasil, o que não demorou a acontecer. Num dia o maestro Ray Conniff, no outro o astro do violão cigano Paco de Lucia. Era demais para meu caminhãozinho. Como dizem os jornalistas italianos repito aqui: “ fare Il giornalista é molto faticoso, ma é meglio che lavorare.” Traduzindo: fazer jornalismo é muito cansativo, mas é melhor que trabalhar. Se houve prazer na carreira de um locutor que viu e narrou os feitos de Pelé, Maradona, Rivelino, Ademir da Guia, Tostão ...os momentos vividos nas circunstâncias extras que a carreira me proporcionou estão muito acima do grito de gol ou da descrição de um drible sensacional, de um nocaute ou de uma ultrapassagem numa curva fechada.

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