Nos últimos anos, a tecnologia tem passado por uma transformação silenciosa, mas profunda. Um estudo da Gartner, publicado antes de 2023, trouxe uma previsão ousada: “Até 2024, 80% dos produtos e serviços tecnológicos serão construídos por pessoas que não são profissionais da tecnologia.” Para muitos, essa ideia parecia quase irreal, afinal, o desenvolvimento de soluções tecnológicas sempre foi território exclusivo de especialistas em TI. Contudo, com a evolução das plataformas no-code e low-code, essa previsão não só se concretizou, como foi superada.
As ferramentas no-code, que permitem a criação de aplicativos e sistemas por pessoas sem conhecimento técnico, surgiram como uma resposta à crescente demanda por soluções customizadas e específicas de mercado. Com elas, qualquer pessoa, de qualquer área, pode personalizar e desenvolver soluções tecnológicas que atendam diretamente suas necessidades, sem depender de programadores ou desenvolvedores. Plataformas como Bubble, Webflow e Airtable se tornaram exemplos vivos dessa nova era, onde a inovação está literalmente nas mãos de todos.
Eu, pessoalmente, comparo esse momento ao final dos anos 80 e início dos 90, quando entrei no mercado de trabalho. Naquela época, ser digitador era uma das profissões mais valorizadas. Quem era ágil com os dedos conseguia ganhar salários muito bons, pois as empresas dependiam fortemente desses profissionais. Mas, assim como aconteceu com tantas outras profissões ao longo da história, essa função foi rapidamente superada por novas tecnologias, como scanners e leitores de código de barras, que automatizaram grande parte do trabalho manual.
Da mesma forma, estamos assistindo à reconfiguração do mercado de TI. A necessidade de profissionais especializados ainda é alta, mas as plataformas automatizadas estão assumindo um papel cada vez mais relevante, permitindo que pessoas de diferentes setores desenvolvam suas próprias soluções sem precisar de um grande time de TI. E, como em qualquer profissão, os profissionais de tecnologia também precisarão se adaptar a essa nova realidade. Não é mais apenas sobre saber programar, mas sobre saber usar a tecnologia estrategicamente para inovar.
Essa democratização da tecnologia não elimina a necessidade de especialistas, mas redefine seu papel. Agora, a criatividade e a capacidade de inovação são as habilidades mais valiosas. Empresas de todos os tamanhos estão percebendo que o acesso a essas ferramentas, antes restrito a grandes corporações, agora está amplamente disponível. Ferramentas de automação e customização estão mais baratas e acessíveis do que nunca, tornando o custo de não inovar cada vez mais alto.
Como mencionei em um artigo recente, a inovação está ficando mais barata, enquanto não inovar está se tornando o verdadeiro risco. Se antes as grandes inovações tecnológicas eram realizadas por equipes especializadas, hoje é possível que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa participar desse processo de criação. O futuro da tecnologia não será apenas sobre programação ou desenvolvimento, mas sobre a capacidade de criar soluções, utilizando as ferramentas que a democratização da tecnologia oferece.
Com isso, o presente abriu as portas para um novo futuro. Estamos vendo o surgimento de um novo tipo de desenvolvedor: aquele que não é necessariamente um programador, mas que usa a tecnologia de forma inovadora para resolver problemas. E, à medida que essa tendência avança, cabe a cada um de nós despertar a criatividade e a inovação que existe dentro de nós. O futuro da tecnologia é agora, e ele está mais acessível do que nunca.