Lembro muito bem quando fazia a faculdade de Psicologia, sobre o tanto que foram abordados e de certa forma repetidos, temas sobre a importância da observação. Nos nossos estágios, já finalizando a graduação, havia a supervisão semanal sobre nossa performance nas instituições que estávamos estagiando. Nossos supervisores insistiam sobre essa tão eficaz e tão sublime, tarefa da observação. Fazíamos constantemente, relatórios do que observávamos. Os estágios faziam parte da grade curricular, consistiam em: escolar, organizacional ou empresa, hospitalar, clínico, entre outros.
Como faz muito tempo que me formei, acredito que houve muitas transformações. O estágio que mais me tocava e fazia muito sentido para mim, foi o na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e na própria clínica onde atendíamos os pacientes. Já adorava e sentia-me muito realizada. Todos, sem exceção, eram iniciados pela observação.
Bem, a psicanálise foi fundada por Sigmund Freud (1856-1939) e totalmente voltada em direção à observação. Quando estudava Fisiologia, antes da Medicina, ele fazia um trabalho de observação pura (enguias). Ele foi estudar histeria com Charcot na França, no hospital Salpêtrière. E ficou tempos, o observando. Charles Darwin (1809-1882) é também um grande exemplo. Ele passava grande parte do seu tempo observando.
Uma frase célebre de Darwin, “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. O que os tempos modernos, os tempos atuais, poderão nos dizer sobre a observação? Há tempo para a observação em sua rotina sobre algo ao seu redor? Observamos o que? Estamos com muita pressa, com pressa não registramos as nossas emoções - memórias que fazem parte de nossa história.
Estava na praia e resolvi entrar um pouco no mar, só na beiradinha. Observei que vinha se aproximando uma jovem senhora com um jovem adolescente! Eles vinham em direção ao mar. Quando foram aproximando -se, observei que o jovem começou a resistir, talvez por medo. E ela esperava pelo tempo dele, murmurando algo baixinho. Ele andava mais um pouco e parava. E a mãe foi segurando as suas mãos e seguindo. Ele hesitava. As duas mãos da mãe seguravam as duas mãos do jovem, um em frente ao outro. Chegando próximo, observei que era um jovem com síndrome de Down. A suavidade e afeto da mãe o encorajava em meio a tantas incertezas e um certo terror. Ela o puxava com doçura e firmeza. E assim foram adentrando o mar que os esperavam com ternura. Ele foi indo e hesitando, vulnerável. E passaram por mim e adentraram. O mar os abraçou. E a dança iniciou. Ela sorria para ele e ele foi se soltando. E ela foi o levando no ritmo das águas. O mar parou para a dança dos dois. O mar é mãe, tem lugar para todos. Eu me emocionei muito. O cuidado dessa mãe com o seu filho foi algo admirável. Mal sabia ela que alguém a espiava. Observar, observar e observar é preciso.