Quando falamos de cultura, falamos de quem somos. Falamos de memória, identidade, transformação e, acima de tudo, do futuro que desejamos construir. Em cidades como Presidente Prudente, ricas em diversidade e potencial artístico, essa reflexão se torna ainda mais urgente. No entanto, ela também revela questões que precisam ser enfrentadas com coragem e um olhar generoso para a coletividade.
A partir das demandas apresentadas por artistas, produtores culturais e cidadãos, é inevitável questionar: a cidade se reconhece como portadora desse potencial cultural? A construção das ações culturais acontece de forma democrática, envolvendo todos os interessados? Quais impactos sociais podem ser promovidos a partir da arte e da cultura? Esses questionamentos não são simples, mas apontam para algo essencial: a necessidade de enxergar a cultura como política pública transformadora.
Ao longo da história, observamos que a política pública cultural no Brasil tem sido marcada por contrastes, descontinuidades e, muitas vezes, pela falta de entendimento profundo sobre o tema. Pesquisadores como Barbalho (1999), Botelho (2001) e Rubim (2003) descrevem um cenário de desafios: gestões que se alternam sem planejamento de longo prazo, ações fragmentadas e, por vezes, a ausência de equipes técnicas especializadas. Esses fatores fragilizam a continuidade das políticas culturais e comprometem seu alcance.
Esse contexto não é diferente em nossa cidade.
Quando olhamos para o presente, percebemos que há muito a ser feito. Um conselho municipal que deveria ser espaço de diálogo precisa se fortalecer na escuta ativa e na pluralidade de vozes. Uma Secretaria de Cultura que assume num momento de fragilidade deve reconhecer que seu papel vai além da organização de eventos: é preciso mapear, diagnosticar, planejar e valorizar os artistas e agentes culturais locais. É fundamental entender que cultura não é apenas entretenimento; ela é uma ferramenta poderosa de inclusão, transformação e pertencimento.
Por outro lado, cabe a nós, como sociedade, refletir sobre nossa relação com a cultura. Reconhecemos a arte como um direito de todos? Enxergamos na diversidade cultural um caminho para a democratização da cidade? Estamos dispostos a participar ativamente desse processo? Esses são questionamentos que devem guiar a construção de políticas culturais que sejam, de fato, plurais, contínuas e acessíveis.
A cultura é viva e exige diálogo. Para que isso aconteça, é necessário fortalecer os instrumentos institucionais que garantam sua continuidade e, com o tempo, considerar indicadores que possam demonstrar seus impactos sociais e, principalmente, construir um ambiente democrático, onde todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas.
Se a gestão pública tem um papel importante na condução dessas ações, a sociedade também tem sua responsabilidade: cobrar, sugerir, participar. A política cultural só se concretiza plenamente quando envolve o coletivo – dos gestores aos cidadãos.
Presidente Prudente tem um potencial cultural imenso, mas é preciso que ele seja reconhecido, estruturado e colocado em prática com responsabilidade e sensibilidade. Que essa reflexão nos inspire a caminhar juntos, valorizando a cultura não como um apêndice, mas como o coração pulsante da cidade que queremos construir.
Referências
BOTELHO, Isaura. Romance de formação: FUNARTE e política cultural 1976-1990. Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa, 2001.
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Dilemas para uma política cultural na contemporaneidade. In: LEITÃO, Cláudia (org.) Gestão cultural: significados e dilemas na contemporaneidade. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil, 2003, p. 89 – 104.
BARBALHO, Alexandre. Estado nacional, cultura nacional. Dois momentos paradigmáticos. In: BARREIRA, Irlys, VIEIRA, Sulamita (orgs). Cultura e política. Tecidos do cotidiano brasileiro. Fortaleza, UFC, 1999, p. 77-98.