Winnicott, psicanalista inglês, escreve um livro intitulado “Tudo começa em casa”. Ele refere-se ao grande valor que a família tem, bem como, o seu planejamento e constituição. Preconiza a importância de “uma mãe suficientemente boa”, a capacidade do acolhimento dela e de vir a ser um continente para receber os “conteúdos” que precisam ser “digeridos”, e assim, posteriormente, devolvidos de forma mitigada, em direção à saúde mental dos filhos, enfim, da família.
Em sua epígrafe, “O lar é nosso ponto de partida. À medida que crescemos, o mundo se torna mais estranho, mais complexos os padrões de morrer e viver. Não o momento intenso, isolado, sem antes nem depois. Mas uma vida ardendo em cada momento” (T.S. Eliot, Four Quartets).
Penso realmente que a vida arde em cada momento e não refiro-me aos momentos isolados e intensos, sem antes nem depois. Paradoxos, novas configurações e novos desdobramentos, oriundos da contemporaneidade ou como nos escreve Freud em seu texto “O mal-estar da civilização”, me despertou infinidade de pensamentos e questionamentos sobre os aspectos que levam a família ao seu desmoronamento e o seu efeito devastador.
Esses dias, viajando, deparei-me com rapazes no sinaleiro, pedindo esmola. Observei também, vários carrinhos de supermercados (compras) estacionados junto a eles. Em outro momento, comecei a observar jovens e idosos, empurrando esses carrinhos pela cidade. À noite, constatei que esses mesmos carrinhos de supermercados tornaram-se “casas” para essas pessoas. Eles carregam as suas “casas” e, ao longo do dia, encontram cantos pela cidade, a fim de, repousarem tranquilos.
No carrinho de compras, colocam os seus pertences como: travesseiro, cobertor, fogareiro, roupas, calçados etc. Todo esse assunto levou-me a associar livremente, sobre Diógenes de Sínope. Ouviram falar dele, um filósofo grego que nasceu no ano de 413 a.C.? Era de uma família abastada, sendo seu pai um banqueiro que cunhava moedas. Um dia seu pai foi pego cunhando moedas falsas. Foi preso e Diógenes expulso da cidade. Ele muda-se para Atenas e de boa educação, torna-se filósofo. E passa a perambular pelas ruas e escolhe como moradia, um barril.
Alguns de seus maiores pensamentos: “A felicidade se obtém pela satisfação das necessidades da maneira mais simples e econômica”, “Só é verdadeiramente livre quem está sempre pronto a morrer”, “A sabedoria serve de freio à juventude, de consolação à velhice, de riqueza aos pobres e de ornamento aos ricos” ... Aqui, caros leitores, diante da complexidade do assunto, merece um texto à parte. Mas, pergunto: Será que foi o tempo em que os cobertores eram braços abertos nos aconchegando, os travesseiros, as pernas dobradas das mães, avós, tias e madrinhas e o fogareiro, o amor que aquecia nossa alma?