Você conhece uma pessoa passadora de pano? Fala sério, tem gente pior neste mundo? Até tem, mas os passadores de pano possuem um dom extraordinário de me tirar do sério.
“Passar pano”, você sabe, é a capacidade de achar um motivo nobre para as maiores barbaridades. É tipo assim: um político roubou? A pessoa manda: “Ah, mas antes ele fazia obras.” Um amigo fura combinado? “Coitado, ele tá sobrecarregado.” Até se você for atropelado, o passador de pano dirá: “Mas o motorista deve estar tendo um dia difícil.”
Passar o pano é um superpoder eu diria, mas na verdade é um comportamento que pode ser ingênuo, como aquelas pessoas bem brisadas, que não se orientam direito; ou então pode ser bem maldoso, e aí já rola uma falta de caráter mesmo.
Este último caso tem aparecido bastante, aliás, nas questões políticas aqui no Brasil. Muitos partidários da direita e da esquerda têm se dedicado freneticamente para ver quem passa mais pano para políticos de estimação. É um tal de defender o outro sem a mínima condição de defesa, que fica até vergonhoso ouvir alguém assim.
Fato é que o passador de pano não é ingênuo e sim muito estratégico eu diria, até porque sabe que se admitir que algo está errado, terá que agir. E um passador de pano tem tudo, menos opinião própria. Quer dizer, opinião ele até tem, mas deuzolivre de ter que tomar uma posição. Melhor dizer que "não é bem assim" e seguir na comodidade do "todo mundo erra, todo mundo vai errar".
Daqui uns dias, por ocasião da Páscoa, os católicos vão se deparar com um passador de pano histórico: Pôncio Pilatos. Ao lavar as mãos no julgamento de Jesus Cristo, o governador romano inaugurou a ideia do “Não sou eu, são eles que querem”. Até hoje eu me deparo com muita gente assim, que tira o corpo ou não se posiciona diante das injustiças.
Óbvio que não temos que sair por aí dando nossa opinião ou pitacos na vida de quem quer que seja, mas gosto de compreender também que quando sou acionado socialmente a me posicionar, eu tenho o dever de ir e não passar o pano. Até porque, passar pano não significa se livrar de uma questão errada, mas muitas vezes também ser cúmplice dela.