Eu me tornei professor universitário depois de um plano “excelente” de largar um emprego muito bom e ir para outra cidade fazer uma pós-graduação e viver de seguro-desemprego.
Ficou com inveja da minha destreza profissional? E olha que fiz tudo sozinho, sem ajuda de ninguém! Pois é...
Fico até imaginando a cabeça dos meus pais na época. Porque os pais criam os filhos para serem bem-sucedidos, dão educação de qualidade e oferecem todo suporte até você se estabelecer em um emprego muito bom e quando isso acontece, o que o madame faz? Dá uma pernada e investe em uma aventura.
Meus pais devem ter ficado na dúvida se entre milhões de espermatozóides eu tinha sido mesmo o mais esperto e o mais rápido para fecundar o óvulo. Fato é que esta história nem pode ser só sobre mim, mas também sobre você.
Em 2005, eu tinha um bom trabalho sim, aliás, eu era o “chefão”. Tinha respeito (acho), tecnologia disponível, benefícios, bom salário e até um cartão de visitas todo pomposo. E era uma situação de muito orgulho até porque tudo isso havia acontecido com menos de dez anos de formado. No mundo do Jornalismo, raro.
Mas alguma coisa não batia. Apesar de tudo e de todos à minha volta, havia uma sensação de vazio e pior que isso, um sentimento de que nada do que eu fazia tinha muito sentido. Enfim, tinha perdido a graça.
Sabe como é isso? É como se você subisse uma montanha altíssima, empreendesse muito esforço e tempo para superar este desafio e quando chegasse ao topo falasse assim: “Ah, é isso? E agora?”. Alguém vivendo assim?
Até concordo que a beleza da vida não é chegar ao topo, mas curtir o caminho e isso eu tenho guardado com carinho até hoje. Aliás, uso muito cada experiência acumulada. Mas ali, naquele momento, tudo parou.
Daí que a gente volta para meu “plano infalível" e que na verdade não era bem um plano: era a vida me dando a letra de que era hora de sair. Era a vida gritando dentro de mim de que era preciso reagir.
Quantas vezes você já ouviu este chamado? E quantas vezes você atendeu? Quantas vezes você ficou com medo e não foi? Eu fui e foi aí que tudo mudou.
Estas linhas são poucas para contar a trajetória de sucesso e alegria que vivo até hoje na carreira docente, mas fato é que logo no primeiro mês em Curitiba, morando de favor na casa da “Santa Tia Rose”, eu fui buscar minha primeira cota de seguro-desemprego e ali na fila da Caixa Econômica Federal eu percebi que meu plano não era tão infalível assim. Pensei comigo: “Amigo, dessa vez você se superou”. Não era possível que tinha mudado tudo para ficar nesta condição.
Uns dias de desespero pela frente, muito lamento com a namorada “quase noiva”, Carol, que tinha ficado em Presidente Prudente e que me garantiu que eu poderia ir e voltar quando quisesse que ela iria segurar as pontas da nossa vida, e eu finalmente entendi o tapa que esta mesma vida estava dando na minha cara. Eu havia me movimentado, mas não era para baixo. Era para ser melhor e maior do que eu já era.
Comecei a me organizar, buscar saídas, conversar muito e alguns dias depois, a frase “Quem tem amigo, tem tudo” se materializou. Recebi um convite da então coordenadora do curso de Jornalismo na Unoeste da época, Thaisa Bacco, para ser professor. E mais: a instituição me apoiaria a cumprir a pós-graduação que havia começado e durante um ano e meio fiquei entre Prudente e Curitiba, mas aí sim, feliz.
O resto é história e a certeza de que as viradas de jogo na vida só dependem mesmo é do quanto você vai escutar o seu coração e se deixar levar por aquela sensação de mudança.
Se não está bom, pare, escute e leve a sério uma frase que aprendi sobre fé: “Primeiro você põe os pés e depois, Deus põe o chão”.
Complemento 1: Quando sua namorada disser para você ir que ela segura as pontas e que tudo dará certo, tente casar-se com ela. Eu me casei com a Carol, temos dois filhos e não seria nada sem ela ao meu lado.
Complemento 2: Os anjos existem sim, podem estar mais perto e serem mais reais do que imagina e rezo por eles todos os dias.