6 x 1: os políticos topariam esta jornada?

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 19/11/2024
Horário 06:00

Sabe o que é irônico nesta discussão da jornada de trabalho 6 x 1? É que quem vai decidir se o trabalhador pode ter um dia a mais de folga (justa!) na semana é quem tem uma escala absurdamente flexibilizada, que são os políticos. Em Brasília, eles têm a opção de trabalhar no sistema 3 x 4, ou seja, precisam prestar contas do salário que recebem apenas por três dias da semana. O restante está “meio” que liberado. 

“Ah, Mancuzo, mas eles trabalham na base etc e tal!” Tá bom, vamos discutir esta questão também, se é que eles realmente trabalham na base e não fazendo lobbies e buscando apenas seus interesses Brasil afora. Podem provar isto todo dia, assim como se “bate um cartão”?. E se isto é justo, porque não permitir que o trabalhador que hoje está no 6 x 1 também saia para resolver seus problemas sempre que precisar? Na “base” deles? Não pode, né? Imagine...

“Ah, Mancuzo, que proposta insana. Aí você quebra o país!” Pois é, quem de fato quebra esse país é esse bando de gente que não trabalha e ainda nos obriga a pagar suas contas com nossos impostos. Quem quebra o país é que não paga imposto direito e tem altos esquemas contabilistas para se safar. Quem quebra o país é quem quebra uma empresa como a Americanas e sai ileso. 
 
Quer mais: ainda na semana passada, os vereadores de São Paulo aumentaram os próprios salários em quase 40% e não vi ninguém reclamar. Isso não quebra o governo? Por que a conta tem que ser sempre para o lado mais fraco? Enfim, podia passar o dia todo aqui dando exemplo de quem “quebra” o país.
 
“Ah, Mancuzo, mas então isso vai afetar a geração de emprego!” Ora, quem sabe um pouco de economia, sabe também que o que manda neste processo é a demanda de consumo e não a vontade do empresário em gerar postos de trabalho. Conversa mais mole, esta.

Nunca esqueço de um pequeno empresário prudentino que se horrorizou porque eu não iria votar no dono da universidade que eu trabalhava para um cargo legislativo. Ele dizia que eu “devia” este favor a ele por ter o meu emprego. Sabe, eu não sei exatamente como este pequeno empresário se enxerga diante das pessoas, mas eu me vejo como um profissional de fato e que por isso não precisa fazer nada mais além do que cumprir as suas obrigações trabalhistas. Não vem com essa de “favor”, não.

“Ah, Mancuzo, mas aí o dono da empresa tem que se reorganizar radicalmente ou contratar mais gente ou repassar o custo para o consumidor!”. Uma resposta para isso: se você é um empresário e não consegue resolver esta questão sem onerar o consumidor, não merece o cargo de “empresário”. Pode parar com este vitimismo. É só se organizar melhor. 

Enfim, a PEC por uma jornada de trabalho mais justa já ganhou assinaturas suficientes para ir à votação no Congresso e tem que ser aprovada sim. Penso ainda mais que está na hora de rever também estas jornadas absurdas que a classe política possui porque eu realmente não enxergo que este benefício todo seja bom não só para eles, como para a sociedade em geral.
 

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