Pelo menos 6 mil funcionários perderam seus empregos com o fechamento das usinas de açúcar e álcool na região de Presidente Prudente. São aproximadamente 1,8 mil dos representados pelo Sindetanol (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Química, Farmacêutica e Fabricação de Álcool, Etanol, Bioetanol e Biocombustível de Presidente Prudente e Região), 500 da Santa Fany, 1,3 mil da Decasa, 2 mil da Floralcool e 800 da Usina Dracena. De acordo com a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), o setor que empregava mais de 1 milhão de pessoas diretamente , nos últimos anos, mais de 50 mil postos de trabalho em todo o país.
Somente em agosto deste ano, a indústria paulista do segmento de açúcar e álcool demitiu 2,7 mil funcionários, conforme pesquisa da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Wadir Olivetti, diretor regional regional da entidade, pontua que a conjuntura prejudica toda a cadeia produtiva da cana e ressalta que não há como estimar o número total de postos de emprego perdidos. "Não é só quem está dentro da usina, mas tem funcionários de empresas terceirizadas", afirma. Segundo ele, o prejuízo na região não só atinge o segmento específico da usina que paralisa suas atividades, mas inúmeros outros, tanto da área industrial que fabrica o maquinário, quanto o comércio que vende insumos e o segmento de serviços.
Dentre os vários funcionários que perderam seus empregos na região de Prudente está Moacir Medeiros Nascimento, 73, que trabalhava como encarregado da Usina Santa Fany. Segundo ele, a paralisação da empresa "pegou todos de surpresa e precedeu um período de muita dificuldade". "No momento em que ela fechou, saímos sem pagamento, sem 13º, sem nada". Segundo Nascimento, o mais difícil no período foi encontrar coragem para contar para sua esposa e seus filhos o que havia acontecido. "A primeira coisa que a gente pensa é no sustento deles", explica.
Durante um ano, obteve seu sustento por meio de "bicos", pequenos serviços realizados esporadicamente, sem nunca ter a garantia de quanto receberia no final do mês. Além disso, durante o tempo em que ficou desempregado, sua renda diminuiu. "Pra gente que vive da indústria e depende dela, essa situação é um desespero", enfatiza.
Na região
A Usina Santa Fany entrou em processo de recuperação judicial em 2009, com seu plano aprovado no primeiro semestre do ano seguinte. No entanto, ele não foi cumprido em sua totalidade, conforme Ely de Oliveira Faria, advogado constituído para fiscalizar o desdobramento deste processo. Em 2011 a empresa teve dificuldades operacionais, por deficiência na indústria e falta de capital de giro. Então deixou de manter sua produção e paralisou. Propostas de venda e compra foram apresentadas, mas até agora nada se concretizou.
De acordo com José Aimar de Araújo, na época engenheiro agrônomo da usina e hoje um dos representantes da mesma, os 500 funcionários demitidos eram apenas da parte agrícola. "Os empregos indiretos eu não consigo nem estimar".
Hoje, o maquinário da indústria que chegou a moer 7 mil toneladas de cana-de-açúcar, gerando 80 litros de álcool, segue sem uso. São cinco caminhões, quatro tratores e três ônibus abandonados, entre outros equipamentos.
Já a Floralcool, usina que desempregou 2 mil funcionários em seu fechamento, chegou a contar com 4 mil trabalhadores, número que diminuiu gradativamente, segundo Daniel Belarmino, presidente do Sindicado dos Trabalhadores e Empregados Rurais de Flórida Paulista. A empresa também estava em recuperação judicial e foi adquirida por um grupo em 2013, mas devido às dificuldades em saldar as dívidas adquiridas na compra, voltou a fechar.
"Não depositaram aos funcionários nem a multa ou o Fundo de Garantia , mas fizemos ação coletiva com mais de mil trabalhadores", afirma. De acordo com Belarmino, a estiagem também diminuiu em 25% a produtividade da usina. "Como já está mais caro pra fazer o etanol do que pra vender, não teve jeito, a empresa quebrou".
A Decasa, de Marabá Paulista. também paralisou suas atividades em 2012 por conta de endividamento. "Houve um grande investimento em 2008 e esperava-se que o setor continuasse mantendo uma margem boa de lucro, mas a crise também pegou a gente", conta o advogado Miguel Francisco de Oliveira Flora. Segundo ele, os recursos se tornaram cada vez mais escassos e não foi possível renovar o canavial. "Já chegamos a processar 1,4 milhão de toneladas de cana e essa média caiu em apenas um ano para 600 toneladas, enquanto agora é zero", compara.
A diminuição gradativa também ocorreu no número de funcionários, de 1,8 mil para 1,3 mil empregados diretamente. "Conseguimos agora quitar 80% da primeira parcela dos salários atrasados no ano passado, mas este ano ainda não conseguimos pagar nenhum", expõe.
Clima
A Usina Dracena, por sua vez, foi prejudicada pelo fator climático, conforme o superintendente executivo da indústria, Pedro Collegari. "Devido à redução da produção das lavouras de cana, ocorridas em 2010 e 2011, pela frente fria que acometeu a região em junho e a estiagem no período de crescimento da cultura, houve redução de 18% na produção, o que tornou inviável o processamento em nossa unidade", explica.
De acordo com ele, no setor as margens de ganho já são "extremamente baixas" e por essa razão, operar abaixo da capacidade de produção seria arriscado, podendo gerar prejuízos fortes e colocar em risco a saúde financeira da empresa. "Diante dessa situação, a melhor alternativa foi paralisar as operações industriais e vender a cana. Essa decisão foi acelerada pelos preços pagos pelo etanol, bem abaixo dos custos de produção", explica.
A Usina Dracena processava, em média, 150 mil toneladas de cana-de-açúcar por mês, gerando 12,5 milhões de etanol. De acordo com Collegari, a empresa ainda estuda a possibilidade de retornar suas atividades em 2015.
Segundo o diretor-técnico substituto do
EDR (Escritório de Desenvolvimento Rural) de
Prudente,
Lauro Eiji Tiba, o clima da região não é tão bom quanto de outras localidades que concentram mais usinas, por ter o solo arenoso, que não é tão adequado, além da estiagem que também acaba prejudicando. "No entanto, a produtividade não chega a ser ruim, mas não é ótima. Apesar do fator prejudicar, é importante salientar que esse não é o principal motivo do fechamento das usinas", explica. Conforme ele, a implantação da indústria exige muito capital e muitas delas por não conseguir manter hoje o lucro necessário, acabam se endividando e paralisando.