Ao todo, 7.106 pessoas foram contaminadas com a dengue do começo do ano até o momento, na soma dos 15 municípios onde O Imparcial circula. Atualmente, 7.236 pessoas estão com a suspeita da doença, de acordo com levantamento realizado pela reportagem junto às cidades de Alfredo Marcondes, Álvares Machado, Indiana, Martinópolis, Mirante do Paranapanema, Narandiba, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Rancharia, Regente Feijó, Santo Anastácio e Teodoro Sampaio.
Dentro desse recorte regional, Teodoro Sampaio lidera o ranking de diagnósticos de dengue em 2022 até o momento. São 1.821 casos confirmados de janeiro até o fim de maio, conforme indica a Vigilância Epidemiológica do município. Por lá, 377 pessoas estão com a suspeita da doença e aguardam resultado.
Segundo o órgão, na última medição realizada no começo do ano, a média de IIP (Índice de Infestação Predial) – indicador utilizado para avaliação de situação de risco para transmissão da dengue – foi de 3,21%, isso representa que a cada 100 imóveis no município, pouco mais de três apresentaram foco de contaminação. De acordo com a classificação de risco do Ministério da Saúde, um IIP de 0 a 0,9% representa um nível satisfatório; o nível é de alerta de 1% e até 3,9%; acima de 4% é considerada uma situação de alto risco de epidemia.
Em abril, como noticiado por este diário, a Prefeitura de Teodoro Sampaio decretou estado de emergência em saúde pública em todo o território do município, em razão da epidemia de dengue. A medida, com previsão para vigorar por até 180 dias, visa organizar ações de enfrentamento à doença, que tem sobrecarregado o sistema de saúde municipal.
Presidente Prudente foi a única cidade da região que registrou morte ocasionada pela dengue, uma mulher de 71 anos perdeu a vida em maio, e outros três óbitos estão em investigação pelo município. Em Prudente, até aqui, 1.485 pessoas foram diagnosticadas com a doença neste ano. Atualmente, 4.347 pessoas aguardam resultado do teste para saber se estão infectadas. Para atender o crescente número de casos, a Prefeitura disponibilizou o Centro de Apoio à Dengue, localizado na UBS (Unidade Básica de Saúde) da Cohab, o Cohabão, que funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, atendendo demandas espontâneas de pessoas com os sintomas da doença, sem necessidade de encaminhamento por outras unidades.
Confira na tabela abaixo o número de diagnósticos confirmados de dengue em 2022 em cada um dos 15 municípios por onde O Imparcial circula e também o número de casos suspeitos, conforme os últimos boletins epidemiológicos divulgados pelas cidades
DENGUE NA REGIÃO
Município: |
Número de diagnósticos confirmados em 2022: |
Número de casos suspeitos conforme últimos boletins epidemiológicos: |
Alfredo Marcondes |
19 |
13 |
Álvares Machado |
64 |
157 |
Indiana |
148 |
25 |
Martinópolis |
1030 |
1585 |
Mirante do Paranapanema |
14 |
21 |
Narandiba |
43 |
90 |
Pirapozinho |
295 |
45 |
Presidente Bernardes |
85 |
57 |
Presidente Epitácio |
365 |
185 |
Presidente Prudente |
1485 |
4347 |
Presidente Venceslau |
774 |
10 |
Rancharia |
138 |
108 |
Regente Feijó |
767 |
127 |
Santo Anastácio |
58 |
89 |
Teodoro Sampaio |
1821 |
377 |
Total: |
7106 |
7236 |
Fonte: Consulta aos municípios
Com a alta incidência da dengue, as prefeituras destes 15 municípios consultados por O Imparcial relataram estar realizando diversas ações para combater o mosquito Aedes aegypti, vetor da doença, como nebulização para o extermínio do mosquito adulto, recolhimento de materiais abandonados, visita de agentes de endemia para fiscalizar possíveis criadouros, além de campanhas de conscientização para a população não deixar água parada.
O médico infectologista Luiz Euribel Prestes Carneiro explica que para haver proliferação de larvas do mosquito Aedes aegypti é necessário haver água parada. Segundo ele, as larvas se desenvolvem em pequenos locais. “Desde uma tampinha de garrafa até uma caixa de água domiciliar que não esteja protegida de maneira adequada”, elucida Euribel, que enfatiza a evolução da resistência das larvas do mosquito. “Inicialmente, precisava de água limpa para que isso acontecesse, mas com o tempo essas larvas foram ficando resistentes e hoje se multiplicam até mesmo em água contendo pequena quantidade de sabão”.
“É praticamente impossível erradicar o mosquito transmissor também chamado de vetor, então, a principal estratégia é controlar seu criadouro”, pontua Euribel.
Foto: João Paulo Barbosa/Cedida
No Brasil, segundo Luiz Euribel, há quatro tipos do vírus da dengue
O infectologista elucida que a dengue é uma doença vetorial, ou seja, é necessário um mosquito, no caso o Aedes aegypti, para que a transmissão ocorra. “O mosquito pica principalmente durante o dia e as fases do mosquito incluem ovo, larva, pupa e o mosquito adulto. As fêmeas do mosquito são as que picam, isso porque precisam do sangue para o desenvolvimento dos ovos. O Aedes aegypti procria rapidamente e o mosquito adulto vive em média 45 dias”, explica o médico.
De acordo com o médico Luiz Euribel, a transmissão da dengue ocorre a partir da picada do mosquito em uma pessoa infectada com a doença, o mosquito mantém o vírus na saliva e retransmite-o para outra pessoa. “A transmissão do ser humano para o mosquito ocorre enquanto houver presença de vírus no sangue do ser humano. Este período começa um dia antes do aparecimento da febre e vai até o 6º dia da doença”, descreve.
Mas, toda picada resulta em contágio? Não, conforme indica Luiz Euribel. O médico explica que nem toda picada do Aedes aegypti é capaz de infectar as pessoas. Segundo ele, a dengue é transmitida apenas por mosquitos fêmeas contaminadas e algumas pessoas são resistentes ao vírus. “Apenas as fêmeas contaminadas pelo vírus transmitem dengue e, para que se infectem, elas precisam sugar o sangue de alguém doente. Existe um grupo pequeno de pessoas que são naturalmente resistentes ao vírus da dengue, como existem com outras doenças transmitidas por vetores, mas é difícil predizer quem é resistente ou não”.
No Brasil, segundo o infectologista, há quatro tipos do vírus da dengue e na região o sorotipo predominante é do tipo 1. “Cada sorotipo tem suas próprias características. É importante ressaltar que os anticorpos da dengue são neutralizantes para aquele sorotipo, ou seja, se alguém se infectou com o sorotipo 1 estará protegido pelo resto da vida, mas pode se infectar com os outros sorotipos”, indica o médico.
Luiz Euribel relata que a dengue, a gripe pelo vírus influenza ou a Covid-19 são doenças autolimitadas e que passado o período de replicação do vírus, “ou o indivíduo mata o vírus ou o vírus mata o indivíduo”. “Na dengue, a replicação ocorre normalmente até o oitavo dia, mas costuma-se dizer que tudo o que durar mais que 10 dias não é dengue. Podem ser as sequelas que a infecção causou, isso ficou muito evidente com os pacientes infectados por Covid-19, mas que podem ser comparados aos indivíduos infectados pelo vírus da dengue”, elucida o infectologista.
O especialista explica que uma das principais complicações da dengue é a desidratação rápida com consequências graves e realça que a hidratação deve ser conduta fundamental aos pacientes. O infectologista relata que há uma classificação de risco para o manejo de pacientes com a doença, que vai de A a D, “de menor gravidade para maior gravidade”. Euribel também fala sobre o principal fator de risco que pode aumentar a probabilidade da pessoa se infectar com a forma mais grave da doença, a dengue hemorrágica. “Um deles é o paciente ter sido infectado previamente com outro sorogrupo”, realça o médico, que, neste caso, não aconselha o uso de remédios anti-inflamatórios. “Medicamentos como os anti-inflamatórios do tipo aspirina, ibuprofeno, cetoprofeno, nimesulida não devem ser usados pelo aumento de risco de sangramento. Existem algumas doenças genéticas que produzem distúrbios de coagulação sanguínea, cujos pacientes podem eventualmente evoluir com gravidade”, explica.
“De maneira geral tratamos os sintomas dos pacientes uma vez que não há um antiviral efetivo para a dengue”, esclarece o médico infectologista Luiz Euribel Prestes Carneiro.
Foto: Fiocruz
Dengue é transmitida por mosquitos fêmeas contaminadas