A 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, com sede em Presidente Prudente, é composta por 53 municípios e foi considerada pelo Ranking de Presença Feminina no Poder Executivo, do PMI (Projeto Mulheres Inspiradoras), como uma localidade de baixa presença feminina à frente de prefeituras, ao ficar em 12º lugar em um total de 16 regiões. Isso porque, apenas 17 dos municípios (30%) tiveram candidatas a prefeitas, com apenas três eleitas, o que representa 5,7% das cadeiras. A pesquisa tem lançamento oficial hoje e objetiva contribuir para a qualificação e estímulo acerca da “sub-representação feminina” na política, além de gerar debates a partir dos números.
Os dados foram levantados com base em informações prestadas, por exemplo, pelo Banco Mundial e ONU (Organização das Nações Unidas), e avaliou a participação de mulheres em 186 países, de 1940 a 2018, e mostram que de todas as mulheres que se candidataram 82,9% não conseguiram se eleger, sendo que a média de eleitas para cada 100 mil habitantes na região é de 0,28. O número é pior do que o mesmo índice em âmbito nacional, que tem que média de 0,32. “São três prefeitas num raio de 1 milhão de habitantes, sendo que apenas 5,1% moram em municípios administrados por prefeitas, um número menor do que o indicador na média nacional que é de 8%”, esclarece o estudo.
Na pesquisa, a diretora-executiva do PMI, Marlene Campos Machado, diz que o sistema e os agentes políticos precisam dar “mais espaço” e apoio às mulheres com interesse e vocação política, além de comentar sobre a 10ª RA. “A região de Presidente Prudente apresenta dificuldades em todos os principais índices: de candidatas, de desempenho e o de representatividade, uma vez que as mulheres ocupam apenas 5,7% das cadeiras de chefia do poder Executivo”. Em nível nacional, a cada dez prefeitos, nove são homens, sendo que 98,4% das candidaturas são do sexo masculino.
Para a vice-presidente da BPW (Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais), de Prudente, Cristiane Fernandes Zagol, grupo que objetiva debater o empoderamento econômico, capacitação e liderança nas mulheres de todos os níveis, o dado regional apresentado é preocupante e pior do que o esperado, uma vez que o gênero deveria estar mais envolvido no cenário político. “Ainda há uma certa discriminação contra as mulheres, quando muitos persistem em acreditar mais no seco masculino. É uma imagem que foi construída com o tempo e eu, como dona de empresa, por exemplo, vejo e vivencio isso”, explica.
Cristiane, no entanto, confiante, afirma acreditar em uma melhora no cenário em curto e médio prazo, uma vez que, para ela, a sociedade tem reagido e discutido cada vez mais a igualdade de gênero. “Penso que não deve ser fácil entrar e exercer tal cargo na política, já que as mulheres enfrentam os desafios diários pelo simples fato de serem mulheres. O preconceito existe, mas sou bem positiva em acreditar em uma melhora”.
Representatividade regional
Para a prefeita de Presidente Epitácio, Cássia Regina Zaffani Furlan (PRB), o dado já era esperado, visto que, segundo ela, a mulher sente “mais pressão” para exercer cargos políticos, além da sociedade que ainda tem comportamentos machistas em relação à capacidade do gênero. “Não acredito que as mulheres vão fazer a diferença, ou que somos mais capazes do que os homens, o fato é que pensamos de formas diferentes e temos condições para exercer as mesmas funções que os homens”.
Questionada sobre desafios e preconceitos vividos, a chefe do Executivo se lembra das ocasiões, ainda frequentes, em que se dirige para regiões em que não é conhecida e é cumprimentada como se fosse assessora e não prefeita. “Eu sou vaidosa, me arrumo e vou bem vestida para eventos, mas normalmente sou vista como a assessora, não que eu desmereça o cargo, pelo contrário, vejo que a minha função é desmerecida, já que estão acostumados com uma imagem masculina no poder”. Cássia afirma, no entanto, que entrou “ciente e preparada” para tudo o que poderia ocorrer durante o mandato.
No comando desde janeiro de 2017, a prefeita diz ainda ver vantagens em ser mulher e estar à frente da administração, uma vez que é “muito bem tratada” e percebe o respeito e cordialidade dos demais para com ela, uma vez que o tratamento para os homens, em alguns casos, pode ser mais agressivo.
Já a prefeita de Indiana, Celeide Aparecida Floriano (PSD), lembra que o resultado da pesquisa poderia ser melhor, mas diz se sentir privilegiada com o cargo. “Vejo que somos melhores atendidas, mesmo com a sociedade, em muitos casos, acreditando que o homem tem mais capacidade. Estou há 30 anos na política e é apenas com meu trabalho que consigo mostrar nossa força de vontade e igualdade”, expõe. Celeide ressalta não ter sofrido preconceitos e diz não poder se queixar da vida à frente do Executivo.
SAIBA MAIS
De acordo com o Ranking de Presença Feminina no Poder Executivo, do PMI, a média de mulheres eleitas no Estado de São Paulo é de 0,2 mulheres a cada 100 mil habitantes, sendo 0,11 por município, ou seja, uma a cada dez municípios do Estado. O estudo mostra ainda que o gênero feminino ocupa 10,8% das cadeiras do Executivo no Estado. O ranking mundial, que avaliou 186 países, apenas 29 deles (15%) tem mulheres como chefes do Estado ou chefes de governo.
NÚMEROS
17
Das 53 cidades da região tiveram candidatas mulheres, sendo 3 eleitas
12ª
É a posição da 10ª RA no ranking estadual de um total de 16 regiões
5,7%
É o valor que representa as cadeiras femininas no Executivo da região
82,9%
Das candidatas não se elegeram, com média de 0,28 para 100 mil habitantes
5,1%
Dos cerca de 1 milhão de habitantes regionais moram em cidades administradas por mulheres