Em um universo de 400 pessoas que realizam hemodiálise na região de Presidente Prudente, uma média anual de 3 a 4 pacientes com doença renal crônica consegue ter acesso ao transplante de rim no município, o qual abarca a demanda de mais 44 cidades que compõem a jurisprudência do DRS-11 (Departamento Regional de Saúde). Isso significa que, anualmente, cerca de 1% dessa população sai da fila de espera.
Os dados foram apontados pelo diretor do departamento, Jorge Yochinobu Chihara, à reportagem, durante o 3º Fórum Municipal da Pessoa com Insuficiência Renal Crônica e Transplantada, realizado na manhã de ontem, no Centro Cultural Matarazzo, em Prudente. O presidente do Carim (Associação de Apoio ao Paciente Renal Crônico e Transplantado), Cássio Mitsuo Tuboni, destaca que, somado a isso, há 750 pessoas prestes a perder o rim.
Diante dessa realidade, a pauta do evento para esse ano foi a estruturação do sistema de transplante em Prudente, uma vez que a cidade é referência na captação de órgãos, mas promove um baixo número de procedimentos para distribuição. Jorge explica que, atualmente, a região oferece três serviços de hemodiálise, sendo dois em Prudente e um em Dracena, ao passo que apenas a Santa Casa de Misericórdia é devidamente credenciada e habilitada pelo Ministério da Saúde para realizar o transplante renal.
Com o objetivo de ampliar a quantidade de procedimentos e reduzir as filas de espera, está em andamento há oito meses um estudo buscando também o credenciamento do HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo. Segundo Jorge, a documentação ainda está sendo elaborada e, assim que concluída, deverá ser encaminhada ao Ministério da Saúde. “Precisamos transformar o HR e a santa casa numa referência terciária para ofertar o maior número desses procedimentos de alta complexidade”, salienta. A Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, gestora do HR, informa que já manifestou para Secretaria de Estado de Saúde, mantenedora do hospital, o desejo em credenciar a unidade para a realização de transplantes e busca as informações e documentações necessárias para tanto.
Análise do histórico
O DRS-11 solicitou ainda para que cada serviço de diálise envie o histórico de seus pacientes renais crônicos, indicando se os mesmos já estão na fila de transplante e, caso não estejam, a justificativa para tal. A partir da condensação do material, será possível ter uma visão mais clara da situação regional, relata o diretor do departamento. Ele expõe que um dos grandes desafios que estacionaram a fila de pacientes foi o fato de a santa casa ter passado um período sem um profissional que avaliasse essas pessoas.
A Assessoria de Imprensa da santa casa informa que o referido médico deixou o hospital no início do ano por motivo de mudança e houve uma dificuldade para encontrar outro profissional na cidade. Ressalta, no entanto, que a situação já está normalizada. Embora a média anual apontada seja de até quatro procedimentos, a instituição comunica que, de janeiro até o momento, já foram realizados sete transplantes de rins. “A ampliação desse número esbarra, principalmente, na falta de doadores”, argumenta.
Enquanto os avanços não ocorrem, Jorge salienta que o poder público auxilia os pacientes que buscam uma vaga em filas fora da região de Prudente. É o caso da aposentada Silvia de Faria Oliveira, 34 anos, que tenta uma oportunidade de transplante em Botucatu (SP). Embora tenha entrado para a fila há três meses, ela já realiza o tratamento há 13 anos. Para a paciente, o sistema de transplante no município deveria ser mais “acessível”, tendo em vista que o deslocamento dela para uma cidade de outra região demanda custos altos. “Eu não sei qual é a minha situação na fila e sinto que ainda vai demorar bastante até chegar a minha vez, mas sigo na espera. Ter a doença renal crônica é muito difícil, pois além de ser submetida três vezes por semana a uma cadeira de hemodiálise, muitas vezes saio de lá debilitada”, considera.
“Número irrisório”
O promotor de Justiça, Mário Coimbra, pondera que o número de transplantes ofertado hoje em Prudente é “extremamente irrisório e não só preocupante como também revoltante”. Para ele, é necessário pressionar o SUS (Sistema Único de Saúde) a referenciar os hospitais da cidade, além de manter uma campanha permanente para a conscientização sobre a doação de órgãos. O maior entrave nesse sentido é a “falta de vontade política”, principalmente entre os prefeitos, aos quais cabe a função de sensibilizar o Ministério da Saúde para que um olhar mais sensível seja voltado ao cenário do transplante de órgãos em Prudente. “É preciso haver mais mobilização, pois senão vamos continuar na cronificação na doença renal, sem resolutividade”, avalia.