O diretor do Museu de Paleontologia de Marília, William Roberto Nava, emitiu uma declaração detalhada em resposta às recentes denúncias sobre supostas irregularidades nas escavações no Sítio Paleontológico de Presidente Prudente, localizado no Parque dos Girassóis.
Na sexta-feira passada, Nava encaminhou um ofício para o secretário municipal de Turismo, Adolfo Padilha, e para a presidente do Comudephaat (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico) de Presidente Prudente, Neide Barrocá Faccio.
As alegações recentes de supostas irregularidades nos trabalhos de escavação no local levaram à suspensão temporária das atividades no local e resultaram em uma série de questionamentos sobre a legalidade das operações e a conduta dos pesquisadores envolvidos.
Na semana passada, como noticiado por O Imparcial, a pesquisadora Silvia Regina Gobbo, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro, protocolou uma denúncia junto ao Comudephaat, que decidiu buscar a intervenção do Ministério Público Federal e Estadual para investigar a retirada de fósseis raros de aves do período cretáceo do Sítio Paleontológico municipal.
Em uma extensa carta, Nava abordou cada ponto levantado nas denúncias e forneceu esclarecimentos detalhados, destacando a história de sua atuação como paleontólogo e a relação do Museu de Paleontologia de Marília com o Sítio Paleontológico de Presidente Prudente.
Abaixo, a reportagem de O Imparcial resume os principais pontos do posicionamento de Nava a respeito das denúncias que envolvem o trabalho liderado por ele junto a pesquisadores estrangeiros dos Estados Unidos, da Argentina e da Espanha.
William Roberto Nava destaca que é licenciado em História pela Unesp de Assis e se considera autodidata na paleontologia. “Me considero um autodidata na área de paleontologia, já que sempre me interessei pelo assunto e busquei me inteirar da matéria por meio da literatura especializada e do contato com a comunidade científica, sempre comparando as minhas descobertas com achados pré-existentes”, relata o pesquisador.
Nava explica que suas descobertas de fósseis remontam a 1993 e que sua experiência e colaboração com diversos cientistas e pesquisadores ao longo dos anos resultaram em importantes parcerias e contribuições para a pesquisa paleontológica.
“Desde essa época participo de eventos relacionados à paleontologia. Essa inserção me permitiu aproximação com vários cientistas e pesquisadores da área; inicialmente de universidades e museus brasileiros - como Unesp de Rio Claro; UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]; Museu Nacional da UFRJ; UERJ [Universidade Estadual do Rio de Janeiro]; Museu de Zoologia da USP [Universidade de São Paulo]; Unesp de Bauru; UnB [Universidade Nacional de Brasília]; Museu de Paleontologia de Monte Alto, Museu de História Natural de Taubaté-SP e, a partir de 2017, com o Natural History Museum, de Los Angeles NHM [EUA] e o Museo Argentino de Ciências Naturales, de Buenos Aires, Argentina”, pontua o diretor do Museu de Marília, ao falar sobre sua relação com pesquisadores de diversas instituições acadêmicas ao longo de sua atuação na paleontologia.
“Esses cientistas e pesquisadores reconheceram a importância do meu trabalho, o que culminou com importantes parcerias que permitiram a disponibilização para pesquisa de importantes materiais fósseis que encontrei no centro oeste e no oeste paulista, os quais foram e, ainda são, objetos de estudos de vários alunos de graduação e de pós-graduação e redundaram em dissertações de mestrado, teses de doutorado e na publicação de artigos científicos”, argumenta.
O Museu de Paleontologia de Marília, criado em 2003 e inaugurado pouco mais de um ano depois, em 2004, é um órgão público municipal destinado ao estudo, pesquisa, coleta e conservação de fósseis encontrados em sítios paleontológicos na região.
Nava enfatizou que o local é reconhecido e referenciado pela Sociedade Brasileira de Paleontologia, destacando sua importância na comunidade científica. “Inaugurado pela Prefeitura de Marília em 25 de novembro de 2004, o Museu de Paleontologia de Marília é um dos 30 museus referenciados no website da Sociedade Brasileira de Paleontologia, ao lado de museus como o Museu Nacional da UFRJ, o Instituto Geológico de São Paulo, o Museu de História Nacional de Taubaté, Museu de Zoologia da USP e outros”.
Em sua defesa, o pesquisador de Marília explicou que a descoberta do sítio em Presidente Prudente ocorreu em 2004 e que as atividades de pesquisa foram autorizadas pela ANM (Agência Nacional de Mineração). “Em setembro de 2004 descobri o sítio paleontológico do Parque dos Girassóis, em Presidente Prudente. A descoberta não foi acidental, já que para descobrir fósseis é necessário que se tenha conhecimento sobre rochas e um olhar clínico para reconhecer fósseis”, inicia o diretor do Museu de Paleontologia de Marília.
“O que hoje é um sítio paleontológico era, na época, um terreno baldio como tantos outros por aí, com mato e lixo depositado”, destaca Nava.
Ele também esclareceu que não houve convênio formal entre o museu e a Prefeitura local, pois a pesquisa é regulamentada por legislação federal. “Importante ressaltar que os locais onde se encontram fósseis são conhecidos como sítios fossilíferos ou sítios paleontológicos, e são propriedade da União, de acordo com Decreto-Lei de 1942. A regulamentação da matéria exige que pedidos de autorização para extração de fósseis feitos por profissionais autônomos indiquem uma instituição científica para ser depositária do material fóssil coletado. Indiquei o Museu de Paleontologia de Marília. A autorização para coleta de fósseis que me foi outorgada vincula a coleta desses fósseis a sua entrega para depósito no Museu de Paleontologia de Marília”, alega William Nava.
Nava detalhou a colaboração com pesquisadores estrangeiros, incluindo o professor Luis Maria Chiappe, do Museu de História Natural de Los Angeles. Ele destacou que a pesquisa envolvendo pesquisadores estrangeiros foi autorizada de acordo com a legislação vigente.
O diretor do museu assegurou que todo o material coletado, incluindo os fósseis, está sob a guarda do Museu de Paleontologia de Marília, conforme exigido pela ANM. “O museu está a apenas 175 quilômetros de Presidente Prudente e seu acervo e registros estão disponíveis para todos os pesquisadores interessados. Inclusive pesquisadores que estiverem inseguros sobre a qualidade dos trabalhos de campo ou sobre o verdadeiro destino final das peças”, sustenta o diretor do Museu de Marília.
Nava enfatizou que não possui mestrado ou doutorado em paleontologia, mas argumentou que esses títulos não são obrigatórios para a pesquisa paleontológica, uma vez que a profissão não é regulamentada por um órgão específico.
Ele esclareceu que não foi responsável pela colocação das placas identificando o sítio como "William's Quarry" e que só soube da mudança do nome para Sítio Paleontológico “José Martin Suarez” posteriormente, em 2020.
“Em agosto de 2020 foi colocada no Sítio Paleontológico José Martin Suarez uma placa informando o tombamento. Não havia menção ao nome do sítio. Apenas a identificação da Prefeitura. Essa placa sofreu com as intempéries e caiu. Nunca foi colocada outra placa pelo poder público. Alguém preocupado em identificar o local, e querendo fazer alguma homenagem a mim, colocou duas placas com a denominação ‘Sítio Palenteológico [sic] William’s Quarry’. Cumpre-me esclarecer, definitivamente, que não fui eu quem as colocou; senão, francamente, não teria autorizado que colocassem uma placa com erro de grafia no nome do sítio em questão: Palenteológico [sic], no lugar de Paleontológico”.
Nava refutou veementemente as alegações de contrabando, enfatizando que todas as atividades foram realizadas de acordo com a legislação vigente e que os fósseis estão sob a guarda adequada no Museu de Paleontologia de Marília.
“Se a denunciante tivesse dúvidas sobre o destino das peças, poderia vir ao Museu de Paleontologia de Marília e ali ver todas as peças que cita como tendo sido provavelmente contrabandeadas. Marília, que está a 175 quilômetros de Presidente Prudente. Mas a intenção era outra: ofender minha honra com a intenção de me desacreditar na sociedade, o que causou grave dano à minha imagem”.
O diretor do Museu de Marília destaca que, ao longo de 19 anos de atuação no Sítio Paleontológico de Prudente, as instituições acadêmicas no município demonstram desinteresse pelo local. “Ninguém interessado em saber o que eu estava escavando, qual o meu objetivo, como o sítio ou eu poderíamos colaborar para as atividades dessas entidades. Esse desinteresse seguiu por 19 anos, mesmo diante de várias publicações e divulgações na mídia - Jornal O Imparcial, TV Fronteira, e outros meios de comunicação - onde eu mostrava as descobertas publicamente. Quem uma vez ou outra aparecia e aparece no sítio são moradores próximos ao sítio, pessoas curiosas em me ver ali, alguns do prédio anexo, querendo saber sobre os ‘dinossauros’, imaginando que estamos escavando os grandes ossos dos dinos”, justifica o pesquisador.
“Se o sítio recebeu o nome do Prof. Pepe - homenagem merecida -, a Unesp, em parceria com a Prefeitura, deveria zelar pelo sítio, que é uma janela para o passado da Terra, com registro muito importante de criaturas do passado, representado pelos fósseis que venho descobrindo e revelando para a ciência”, propõe o pesquisador.
No final da declaração, Nava pediu a reconsideração da suspensão das atividades no Sítio Paleontológico de Presidente Prudente e solicitou acesso aos documentos do processo que resultou na suspensão.
Ele se colocou à disposição para esclarecimentos adicionais, afirmando que a pesquisa paleontológica legítima não deve ser prejudicada por “denúncias infundadas”.
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