Ozempic, Wegovy e Rybelsus contêm semaglutida e são os medicamentos “da vez” para os diabéticos e pessoas com sobrepeso e obesidade. Há realmente milhões de pessoas para as quais esses medicamentos são essenciais, entre diabéticos (7% dos brasileiros adultos) e sobrepesados (55% dos brasileiros adultos). Porém, há outros milhões (talvez em maior proporção) que podem “não precisar” destes medicamentos contendo semaglutida.
GLP-1
É a sigla para peptídeo semelhante ao glucagon 1 (glucagon like peptide 1), um hormônio secretado pelo intestino junto com o peptídeo insulinotrófico dependente de glicose (GIP - ambos chamados de incretinas), durante as refeições, quando o alimento passa pelo trato gastrintestinal. Os efeitos do GLP-1 e GIP são de atrasar o esvaziamento gástrico, inibir a ingestão de mais alimentos, estimular a secreção da insulina e inibir a secreção do glucagon pelo pâncreas. O GLP-1 pode agir de forma direta, se ligando em receptores nos neurônios no núcleo arqueado no hipotálamo (e inibir a fome) e também de forma indireta, estimulando a secreção de insulina, a qual também estimula os neurônios do núcleo arqueado.
ANÁLOGOS DO GLP-1
Os efeitos benéficos do GLP-1 levaram à busca de análogos que mimetizam seus efeitos como a liraglutida (Victoza), semaglutida, exenatida (Byetta). Todos têm efeitos semelhantes aos hormônios intestinais incretinas (GLP-1 e GIP). Esses medicamentos, propostos inicialmente para diabéticos, se mostraram também bastante eficientes para a perda do excesso de peso (especialmente a semaglutida com diminuição média de 17%). Além disso, foram observados outros benefícios, como cardiovasculares e renais.
CORRIDA ÀS FARMÁCIAS
Há décadas se busca um medicamento definitivo para “curar a obesidade”, tendo havido algumas promessas pelo caminho. A leptina (leptos – proteína da magreza) foi uma dessas promessas em 1995, mas não vingou. Desde então a proporção de obesos cresceu significativamente, o que torna cada vez mais urgente uma solução. Por isso, muitas pessoas que podem “não precisar” da semaglutida estão correndo aos consultórios e farmácias. O preço no caixa da farmácia é “salgado” e há o “preço” dos efeitos colaterais.
OPÇÃO 1
O fato é que as pessoas estão consumindo muitos alimentos ultraprocessados, calóricos e em grande quantidade. Mesmo que não o façam diariamente, fazem nos eventos sociais do final de semana. E a maioria não está disposta à reeducação alimentar para ajustar a dieta e hábitos de consumo. Dessa forma, a semaglutida e qualquer outro medicamento terão efeito apenas paliativo.
OPÇÃO RECOMENDADA
Outro fato é que poucas pessoas se dispõem a um estilo de vida fisicamente ativo, com prática regular de exercícios (3-6 vezes por semana) e maior movimentação ao longo do dia (andar, subir escadas etc). Os exercícios previnem e tratam diabetes e obesidade por meio da secreção de uma gama de hormônios e miocinas (proteínas musculares) que não têm efeitos colaterais, mas sim benefícios periféricos (adicionais), tais como a prevenção de neurodegeneração e distúrbios mentais. Por isso, veja bem se você está entre os que “não precisam” da semaglutida.
Há décadas se busca um medicamento definitivo para “curar a obesidade”, tendo havido algumas promessas pelo caminho.
Referências
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