É hoje, às 10h, no Allianz Parque, a grande final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha. E quem vai assistir de casa é o árbitro de Álvares Machado, Clayton de Oliveira Dutra, que teve grande participação na competição que é uma vitrine do futebol brasileiro. Ele, que representou o oeste paulista de forma eficiente em cada partida que atuou, fala nesta entrevista a respeito de sua atuação que foi para si tão especial. E a dedica de todo coração ao amigo que foi para ele sempre uma referência: Baixo Cascavel, o ex-árbitro prudentino que faleceu aos 63 anos, no dia 19, enquanto Clayton estava em São Paulo e, infelizmente, não pode se despedir do amigo.
Por que essa sua participação na Copinha foi tão especial?
Ah, são vários motivos que se resumem e se encaixam um no outro. Por não ter ocorrido no ano passado por conta da pandemia; por ser o retorno do público ao estádio; por ser a maior competição de futebol base da América Latina; é a primeira competição do ano que dá sequência às demais no Brasil. Então fica todo mundo ligado na Copinha, torcendo para o seu time do coração. A Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha 2022, foi especial pra mim porque querendo ou não fazer um jogo com um dos maiores campeões da Copinha, o Flamengo, que tem tradição de revelar jogadores, transmitido para todo o Brasil, é sim a glória. E acredito que foi especial também para todos os amantes do futebol poder assistir novamente a Copinha que é uma tradição esportiva.
Qual o seu palpite para essa final entre Santos e Palmeiras? Fale um pouquinho de cada equipe no decorrer do campeonato...
Eu prefiro não me manifestar. Palmeiras e Santos são dois clubes fortes na base de formação de atletas que contribuem para o futebol brasileiro. Porém, a equipe de melhor campanha é a Sociedade Esportiva Palmeiras, e um dos regulamentos caso a final fosse entre clássicos paulistas, ou seja, entre os quatro times grandes de São Paulo, é de que seria torcida única. Então automaticamente o Palmeiras é favorito por ser a melhor campanha e porque vai jogar no seu estádio com a torcida a seu favor. Mas, como diz o ditado: futebol é jogado, lambari é pescado [risos]. É só quando o árbitro termina que se tem a certeza de quem ganhou.
De todos os jogos em que atuou, qual você diria que foi o mais difícil e qual foi o mais tranquilo? Por quê?
Todos os jogos são importantes para o árbitro, mas posso destacar a partida Flamengo contra o Oeste que já era fase de mata-mata, quinta rodada, segunda fase de eliminatórias. Um jogo transmitido para todo o Brasil pelo SporTV, Rede Vida e TV Brasil onde tinha mais de 8 mil torcedores no estádio, qual culminou na eliminação do Flamengo na Copinha. Então esse foi o jogo mais importante pra mim na Copinha e dos últimos tempos. Fiquei muito feliz que a nossa equipe de arbitragem deu o máximo, nosso 100% e acredito que legitimamos o resultado da partida que foi a vitória de 2 a 0 para o Oeste.
São 15 anos como árbitro, certo? Quais as maiores dificuldades você destacaria na profissão?
As dificuldades que temos são normais. A gente precisa se cuidar e se policiar 24 horas por dia. Pra ser árbitro profissional da FPF [Federação Paulista de Futebol] precisa seguir quatro pilares à risca: físico, mental, técnico e social. Nos dedicamos às atividades, treinamentos como os atletas vivem no dia a dia. Seguir toda uma alimentação saudável para que consigamos ter sempre um maior desempenho numa partida. Durante o ano todo temos provas físicas, teóricas. Precisamos ter uma vida social boa.
E quais as maiores gratificações?
Ah, o reconhecimento da família, dos amigos... estar sempre legitimando o resultado da partida. Árbitro não torce para nenhuma equipe, a gente torce para a arbitragem. Essa sim é nossa equipe e desempenhando com qualidade, dando o nosso máximo, conseguimos legitimar o resultado da partida. Essa é a função do árbitro.
Como foram esses dias de Copa São Paulo? Precisou fazer várias viagens de ida e volta ou ficou em algum lugar em específico?
Fiz o primeiro jogo em Lins [SP], viajei, e no decorrer da Copinha, fiquei à disposição da federação.
Quais seus próximos compromissos, agora?
Continuar os treinamentos físicos, técnicos, manter a alimentação saudável e dar sequência no início do Campeonato Paulista, o Paulistão, das divisões A2, A3 e Segunda Divisão aguardar as escalações futuras da arbitragem.
Sobre o Baixo Cascavel, que era uma das mais importantes referências profissionais pra você, como recebeu a notícia de seu falecimento? Fale sobre a vivência de vocês.
Eu estava em São Paulo quando recebi a notícia. Pra mim foi muito triste porque o Baixo Cascavel [Jair Aparecido Daleffi] era um paizão pra geração mais jovem, assim como pra mais antiga. Eu sempre busquei implantar as qualidades dele nas minhas atuações no decorrer da minha carreira. Ele que foi jogador no passado, era um cara muito respeitado em Prudente e região. Sua história na arbitragem é muito bonita. Com certeza fica um exemplo de pessoa, de ser humano. Toda a minha participação na Copinha fica dedicada a ele que fez parte da minha primeira atuação profissional na arbitragem, em 2006, quando eu e o Leite, de Presidente Bernardes, bandeiramos pra ele num jogo que não me recordo quais eram as equipes, mas foi no Jardim Brasília. Fica a saudade e o seu legado.
Se vocês tivessem a oportunidade de se encontrarem após a Copinha, o que ele te diria depois dessa sua participação, como você disse, especial?
Eu tenho certeza. Certeza que a frase que ele diria se tivesse vivo seria: ‘E ai meu bruxo, fez bonito na Copinha. O pai véio aqui tá orgulhoso por você!’ Essa seria a frase, eu tenho certeza!
Flávio Corvello
Clayton Dutra entre os capitães Diogo Freitas do Oeste (à esq.) e o goleiro do Flamengo, Bruno Souza