A pensadora alemã, Hannah Arendt, em sua obra “As origens do totalitarismo”, afirmou que a atomização do indivíduo, isto é, o isolamento dos homens, era um traço marcante do regime caracterizado pela supressão das liberdades individuais e da manipulação das massas. Apesar da derrota do nazifascismo na Segunda Guerra Mundial, a atomização individual está presente na vida contemporânea, ainda que por motivos distintos da conjuntura do ambiente totalitário. Sob essa perspectiva, o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, atesta que a chamada modernidade líquida é caracterizada pela ditadura do indivíduo, ou seja, pelo individualismo exacerbado, razão pela qual a solidão se tornou um sofrimento inerente ao homem do século XXI.
Numa primeira análise, é importante ressaltar as causas que potencializam a solidão na contemporaneidade, retomando, assim, as teses supracitadas acerca da atomização do indivíduo e do individualismo. É sabido que a supremacia do interesse privado é um reflexo da expansão crescente do fenômeno da mercantilização, caracterizado pela reificação das relações humanas, isto é, pela transformação dos vínculos sociais em meras mercadorias. Compreende-se, portanto, que a carência de laços humanos realmente efetivos e duradouros tipifica uma consequência explícita da superioridade da esfera privada, cuja essência primordial reside no trabalho e no ideal de produtividade.
Nesse sentido, o filósofo alemão, Jürgen Habermas, estabelece uma classificação entre o sistema (mundo do trabalho), dominado pela perspectiva da burocracia produtiva e pela instrumentalização, e o mundo de vida, marcado pelas relações humanas genuínas, sobretudo, com o intuito de elucidar as mudanças estruturais da esfera pública. Para o pensador supramencionado, a primazia da esfera privada é expressa pela colonização do mundo de vida pelo sistema. Desse modo, tendo em vista que o ambiente dos laços sociais efetivos se encontra dominado pela visão de instrumentalização e mercantilização, a solidão se torna uma realidade inexorável, visto que o predomínio da reificação e do individualismo impedem uma empatia verdadeira, uma alteridade capaz de tipificar uma esperança para o sofrimento humano. Sob esse ponto de vista, São Maximiliano Maria Kolbe, missionário franciscano, reitera que somente pelos relacionamentos virtuosos e genuínos é possível o fiel cumprimento dos ideais nobres de felicidade e justiça. Nesse sentido, afirma o autor: “Na companhia de amigos encontramos forças para alcançar nosso sublime ideal”.
Diante dos fatos supracitados, é premente um resgate efetivo da eminência da esfera pública na promoção dos valores de empatia e alteridade, afastando, assim, do mundo de vida os traços típicos do sistema e do mundo de trabalho. Destarte, a solidão é um reflexo da impossibilidade de encontrar um fundamento sólido para a vivência comunitária num ambiente de primazia do individualismo, da reificação e da instrumentalização das relações sociais. A solidão é a atomização da vida social num ambiente pautado pela lógica da racionalidade impessoal e burocrática.